Estado de Minas O jovem professor trabalhava há mais de ano em sua tese de doutoramento. Tudo havia sido lido e fichado, grande parte h...
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Havia vivenciado um flow. Nem soube disso, estava nos anos 60, e só na década seguinte o flow seria descoberto e nomeado pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi. Hoje, vamos criando intimidade com ele, enquanto o termo se prepara para entrar na moda.
Chama-se flow ao estado de consciência próximo da plenitude, em que o corpo – ou a mente- parece agir por conta própria, levando seu proprietário a atingir performances inimagináveis. É um êxtase, uma epifania causada pela liberação de substância neuroquímicas, em estados de extremo estresse. E é viciante.
Este barato auto produzido, que não passa pela farmácia, está sendo estudado nos atletas envolvidos em esporte de alto risco. Mas não nos deixemos enganar, muitas outras situações podem provocá-lo.
Quem viu “O lobo de Wall Street” só não percebeu a presença do flow se ainda não tinha sido apresentado a ele. Não é o efeito das drogas que as personagens consomem constantemente, não é a excitação sexual sempre presente, não é o prazer do poder, não é nem mesmo a euforia pelo dinheiro em si – que Jordan, ou Leonardo di Caprio, chega a jogar pela janela. O que leva o cérebro do jovem corretor da bolsa a liberar as tais substâncias é a intensidade do jogo na compra/venda das ações, em que, como numa luta pela sobrevivência, só é permitido vencer.
90% do sucesso de atletas de alta performance é mental, afirmam psicólogos especializados em esporte, embora reconhecendo não saber como isso funciona. E eu penso na guerra, na conversa que tive com o jovem marine americano de férias no Rio depois de dois anos servindo no Iraque. Lembro dele me contar como, entrando num cômodo escuro em zona inimiga, com os olhos ainda ofuscados pela luz exterior, não cabem averiguações, é preciso atirar logo no que se move, antes que o que se move atire em você. Esse também é um estado de desempenho máximo em que o corpo parece agir sozinho. Como para os atletas, foi treinado longamente, o trabalho da mente sendo a parte mais importante do treino. Se o rapaz não me relatou qualquer sentimento de plenitude, foi provavelmente por pudor. Poderíamos, então, considerar flow a extrema emoção do soldado em luta? Uma coisa é certa, basta olhar a história para perceber que guerra é viciante.
E seria flow um novo nome para paixão? Também trata-se de sobrevivência, pois o coração nos garante que morreremos se não houver retribuição. O risco é altíssimo, o estresse é absoluto, mente e corpo não nos obedecem. E o estado que atingimos pode ser bem mais que a plenitude, pode ser o nirvana.