Prefácio Tenho pouca paciência para prefácios. Alheios, que frequentemente pulo, só voltando a eles depois de já ter lido o livro. M...
Prefácio
Tenho pouca paciência para prefácios. Alheios, que frequentemente pulo, só voltando a eles depois de já ter lido o livro. Meus, que evito sempre que possível. Hoje, porém, gostaria de dar algumas explicações.
Primeiro, quanto à formulação deste livro. Ao contrário de A nova mulher, que o antecede, não se trata exclusivamente de artigos escritos para a Revista Nova. Nele incluí vários textos inéditos, por sentir necessidade de abordar temas que não havia tocado antes, para avançar em atualidade, e mesmo para atender a pedidos de leitoras.
Segundo, quanto ao conteúdo. Este livro é feito de uma presença e uma ausência. Presença de mulheres semelhantes a mim, de formação burguesa, que neste momento se interrogam sobre sua posição no mundo, sua essência de mulher, e procuram novos ângulos de visão. Ausência de mulheres esmagadas por problemas de sobrevivência, operárias, domésticas, camponesas, prostitutas e faveladas, para as quais o problema de condição feminina é menor frente à necessidade de reformulações sociais.
Não há, nesta ausência, alienação. Embora o livro não se ocupe dessas mulheres, elas são elemento dominante nas conferências e nos contatos que venho realizando prevalecentemente junto ao público universitário, não só no Brasil como no exterior. O que ocorre é um injunção profissional, dever de atendimento ao público ao qual minha revista se dirige. E também uma natural inclinação para tratar daquilo que melhor conheço.
Que este livro não seja visto, pois, como uma pretensão totalizadora. Mulher, vou escrevendo meu caminho. Um caminho que, para todas nós, é daqui pra frente.
Marina Colasanti In: Mulher daqui pra frente (Círculo do Livro, 1981)