Marina Manda Lembranças C heguei de uma viagem a Bogotá, saí na manhã seguinte para Barbacena onde estou agora. No aeroporto em Bogotá ...
Marina Manda Lembranças
O motivo primeiro de minha ida a Bogotá era lançar, na Feira do Livro, a edição colombiana do meu “Breve história de um pequeno amor”. Mas a vida, felizmente, é cheia de motivos segundos, que me levaram a agir também pelas laterais.
É uma bela Feira a de Bogotá. Multidões, filas para entrar nos pavilhões onde acontecem as mesas, as palestras, os lançamentos, filas para comer, filas para tudo. Detesto filas em qualquer outra ocasião, mas nas feiras de livro são uma alegria. E essas filas não são obra do acaso.
Em um dos meus dias de permanência na cidade, estava agendada uma palestra em uma das Bibliotecas municipais. A Colômbia é conhecida pelas excelência de suas bibliotecas., só em Bogotá são 16 ( se estiver errando o número, para menos, debitem ao papel esquecido sobre a mesa), grandes, não só grandes, mas de espaços generosos, uma alma arquitetônica circular, muito vidro obedecendo a uma nova política de bibliotecas abertas para o exterior e não fechadas sobre si mesmas, rodeadas de jardins – a minha tinha até espelho d’ água em cascatas. E muitas, constantes atividades gratuitas.
Na sala infantil onde falei, fui recebida por criancinhas e um grande dragão vermelho de papelão. Aos poucos foram chegando adultos. Entre eles, um belo grupo de universitários, estudantes de design gráfico que, guiados por um professor, estavam empenhados num trabalho de criação literárias: tendo recolhido em comunidades carentes histórias contadas pelos moradores, teriam agora que recriá-las de modo a fazer delas outras histórias. E havia professores e donas de casa, gente de diversas idades e profissões. Foi uma bela conversa.
No dia seguinte, estava escalada para visitar um Clanes, e falar com os promotores/professores de literatura. Os Clanes são centros criados para compensar, nas áreas periféricas , o turno único da escola primária pública, que só ocupa as crianças até o meio dia. O intuito é, não só evitar que fiquem flanando desocupadas à tarde enquanto os pais estão no trabalho, como complementar a educação que, como também entre nós, é puramente formal e não inclui as artes ( quando eu estudei, havia trabalhos manuais no currículo, e desenho, e música). Agora, duas vezes por semana as crianças são levadas aos Clanes mais próximos de suas escolas, onde podem escolher entre música, teatro, dança, desenho e literatura.
Oito jovens professores e professoras estavam à minha espera, e durante quase duas horas falamos de livros, de poesia, de literatura para a infância, do acesso ao livro, do entorno cultural, do papel – e da concorrência- das telinhas de qualquer tamanho. Depois, no carro, regressando ao centro da cidade e aproveitando o engarrafamento, continuamos com a mesma conversa que nunca se esgota, porque queremos, queremos tanto fazer crianças leitoras.
No domingo havia multidões na Feira. Bogotá tem 11 milhões de habitantes, e parecia que estavam todos lá, não só para tirar selfies e fotos com os escritores, mas para ver e comprar livros. Certamente, esse interesse não é obra do acaso.