Marina Manda Lembranças C aro Eduardo Paes, que conversa é essa sua, de repente?! Não ouviu nas últimas semanas o barulho das ruas...
que conversa é essa sua, de repente?! Não ouviu nas últimas semanas o barulho das ruas? Deu-se conta de que eram vozes de mulher, ou passou batido? E o que diziam elas, prestou atenção?
Pois é, falavam da sua exigência de respeito. Falavam de sentimentos de equidade. E falavam, muito, contra a violência masculina.
E logo agora, depois dessa tsunami de vontade feminina expressa em muitos decibéis através das mídias e das redes sociais, você dá uma furada dessas!!!
"As brigas," caro Eduardo, não "são um problema do Pedro Paulo", porque as brigas não são um problema dos maridos. Sobretudo não quando envolvem soco e dente quebrado.
Entendo que você esteja muito ocupado com as obras - são obras grandiosas- mas se tivesse prestado um mínimo de atenção no que as mulheres andavam dizendo, até em espaços ideologicamente "cedidos"por seus colegas homens, saberia que, ao contrário do que afirmou na entrevista de domingo, as "brigas" que seu secretário teve com a ex-mulher são, sim, problema seu. São triplamente problema seu. Primeiro, porque você está na chefia da cidade e, como tal, representa o bom funcionamento das instituições e o respeito à lei - e, desde 2006, a lei, Eduardo, diz que em briga de marido e mulher dever da sociedade é meter a colher. Segundo, porque ele é seu secretário, e o representa- e mais ainda o representa já que você fez dele seu Delfim. E terceiro porque, como cidadão, você tem o dever de estar atento a que não se cumpram violências contra os mais fracos.
Nada entendo dos escuros e cavernosos meandros políticos, mas me pergunto se um Delfim, por mais querido e fiel que seja, vale a ira do extenso eleitorado feminino. As mulheres, decididamente, não gostaram de você "admirar a coragem dele", em vez de execrar suas atitudes - onde está a coragem em mentir depois de ter tido o malfeito revelado? Não gostaram nada de você definir uma briga doméstica que acabou na delegacia como sendo "uma coisa de casal, que aconteceu entre quatro paredes, que a gente não conhece as circunstâncias". A gente conhece, sim, Eduardo, porque Alexandra contou, e todos ficamos sabendo que o enfrentamento corporal começou porque Pedro Paulo estava passando Alexandra para trás - bonito isso! - e, interpelado, enfureceu-se. As mulheres, Eduardo, não gostaram de você dizer que o fato do seu secretário ter duas vezes batido na mulher e duas vezes mentido, "não afeta em nada"sua decisão de tê-lo como sucessor.
E as mulheres, Eduardo, estão sabendo se fazer ouvir.
Aliás, o que é isso que você dá a entender, de vida pública e vida privada serem diferentes? Parece tão Brasil de antigamente! Se a vida privada do homem público está dentro da legalidade, tudo bem, a discrição é louvável . Mas se o homem público avança em sua vida privada além das fronteiras do lícito, demonstra sua falta de respeito por aquilo que deveria defender, e sua confiança na impunidade advinda da posição pública. Duas coisas de que estamos querendo nos livrar.
E como é mesmo que funciona essa diferença entre mentir e omitir? Você de fato acredita que Pedro Paulo não mentiu, mas "omitiu para proteger a família"? A proteção dos seus seria, então, método válido para transformar mentira em omissão? E a omissão de um ilícito é mais aceitável que a mentira?
Segundo Ancelmo Gois, na semana passada o secretário "resolveu renunciar à candidatura a prefeito do Rio (...). Foi demovido por Eduardo Paes e um grupo de amigos". Pode ter sido um erro.