Marina Manda Lembranças F ui ver A Guerra, mais recente filme da genealogia Planeta dos Macacos, e tenho algumas indagações. A primeir...
Marina Manda Lembranças
A primeira é; como os macacos alimentavam seus cavalos, vivendo em uma floresta de coníferas povoada, por baixo, de samambaias gigantes? Sem pradarias, sem plantações de alfafa, sem fábricas de ração, o que comiam aqueles cavalos tão bem alimentados ? Seria justo também — embora secundário — perguntar como samambaias gigantes crescem ao pé de coníferas, se as primeiras são plantas tropicais e as segundas caracterizam climas frios. Quanto aos cavalos, já então montados por macacos, são uma herança deixada pelo pai de todos, o filme de 1968, com Charleton Heston.
Outra coisa que não ficou clara e para a qual não encontrei explicação embora pesquisando na internet é: seria este filme relativo a um período anterior ao do filme de 68? ou posterior?
É uma questão relevante. Em 68 tínhamos um macaco chamado Cornelius. O filho dele chamava-se César. Agora temos um macaco, dos mais evoluídos, chamado César, e o filho dele chama-se Cornelius. O César deste filme é o filho do Cornelius do filme de 68? Ou é o pai do Cornelius de 68 que em homenagem ao digno genitor botou seu nome no próprio filho?
Em qualquer das direções, só uma geração passou, e as modificações são surpreendentes para tão pouco tempo. Quando, depois de longa viagem interplanetária, Heston aterriza num planeta aparentemente desconhecido, os macacos são as criaturas dominantes e escravizam os humanos. Os macacos falam e os humanos perderam essa capacidade. Os macacos têm uma organização social caprichada e vestem roupas. Os humanos são mantidos em jaulas.
Apenas uma geração depois, ou antes, tanto faz, o quadro inverteu-se. Os humanos desprezam e escravizam, quando podem, os macacos. Os humanos se vestem, os macacos usam só sua pele e pelo. Os humanos têm armas sofisticadas, os macacos usam lanças e flechas. Só os macacos mais evoluídos falam. E os humanos estão sendo vitimados por um vírus que os impede de falar.
Só duas coisas permaneceram inalteradas: os cavalos pretos que não se sabe como se alimentam, e o desejo de escravizar.
Esse desejo nos diz algumas coisas. No filme de 68 eram os macacos que escravizavam os humanos. Animais não escravizam outros animais. Os macacos, portanto, teriam aprendido ou assimilado esse desejo ao se "refinarem", tornando-se mais parecidos com os humanos. Digamos que veio junto com a fala, a organização social e as roupas. Fazia parte da evolução.
Neste filme, mais moderno e tentando um olhar algo generoso sobre os animais, os símios regrediram como civilização embora cheios de bons sentimentos, enquanto os humanos recuperaram seu poder. Agora são eles que escravizam. E não apenas sob o comando do vilão mor, porque está claro que se uma avalanche providencial não soterrasse o imenso exército uniformizado de branco que vem atacá-lo, os macacos teriam triste fim.
Felizmente, salvaram-se muitos filhotes na tribo de macacos que alcança a terra prometida. Crescerão saudáveis e ressentidos para enfrentar os humanos garantindo um próximo filme. Só vi um ou dois cavalos entre as silhuetas dos símios que na crista do monte olham seu novo paraíso. Mas certamente bastarão para gerar equinos em profusão, montadas para o futuro exército de macacos.