Marina Manda Lembranças E screvo de Medellín, onde vim participar da 11º Fiesta del Libro y la Cultura, em que o Brasil é país convida...
Marina Manda Lembranças
Chama-se Festa em vez de Feira, e festa é. Toda a população está convidada, o ingresso é grátis, as atrações são muitas. E que multidão enorme comparece!
O local do encontro é o Jardim Botânico, com seus lagos, riachos, gramados , suas pequenas selvas, sua árvores e até suas araras soltas. Nada de estandes tradicionais. O que há são salões temáticos, e enormes galpões reunindo editoras de um mesmo naipe. E tendas, tantas, espalhadas em meio ao verde, em que acontecem oficinas, palestras, demonstrações, em que se discute e se canta, em que se desenha e se escuta, em que se aprende e se atua. Muitas das tendas são destinadas a atividades com crianças — a impressão que se tem é que todas as crianças da cidade estão participando da Fiesta — outras tantas acolhem adultos. E há muita comida, guloseimas, sorvetes, refri, e frutas. As frutas são um capítulo a parte na cultura colombianas, abundantes, oferecidas em copos , em fatias, picadas, e que se comem a qualquer hora do dia, em qualquer situação como snacks ou apenas por gula.
Havia tanta gente no domingo, que engarrafamentos humanos aconteciam, e as filas eram longas para entrar dos auditórios onde aconteciam as mesas e palestras. Quem não conseguia entrar ficava de pé, ouvindo do lado de fora.
E em meio a essa quizumba de leitores/autores/curiosos/famílias, uma noiva achou que era boa oportunidade para tirar a foto nupcial, com seu sorriso vitorioso, seu vestido branco de costas seminuas, seu generoso decote e o véu estendido sobre a grama.
Com intervalos de anos, é a terceira vez que participo dessa Festa. E este ano tive um prazer a mais. Entre os Salões havia o Salão de Literatura Infantil e Juvenil. Um salão especial, concebido através da parceria das editoras, em que cada uma delas oferecia somente seus produtos de qualidade. O restante da produção era oferecido em outros espaços, mas naquela grande “livraria” só havia excelência. Pais e professores podiam comprar qualquer livro, seria sempre um acerto. E me acertei com vários.
Sempre me encanto, nesse jardim, com uma estrutura erguida ao centro, o Orquideorama. Tento descrever: a partir de vários suportes, uma estrutura irregular de ripas de madeira se ergue altíssima, junto às copas das árvores, e se abre em segmentos hexagonais interligados, como as flores de orquídea que quer recriar. O que mais me encanta é que esse produto arquitetônico impactante não tem nenhuma finalidade utilitária ou mercadológica. Não se sobe nele para ver do alto o jardim, não puseram lá em cima nem bares nem restaurantes. Apenas, uma vez por ano, realiza-se à sua sombra uma exposição de orquídeas, daquelas orquídeas belíssimas que constituem um dos orgulhos do país.
Segunda-feira, encerrada a Festa, fui falar com os jovens na escola de um bairro periférico encostado num morro, pobre, bem pobre, quase favela. A estrutura da escola é simples, vigas aparentes, tijolos de cimento pintados sem reboco. Várias construções num terreno grande, para abrigar do maternal ao segundo ciclo. E uma equipe de professores apaixonados e capazes. Quase 3000 alunos. Falei, na Biblioteca, com cerca de 200 deles. Preparadíssimos, impecavelmente uniformizados, curiosos, interessados. A escola tem uma oficina de escritura com 50 estudantes e alguns deles estavam na Biblioteca perguntando sobre a profissão, pedindo conselhos, querendo saber como é o ato da criação literária. Dali podem sair escritores, roteiristas, publicitários. Ou não. É certo, porém, que serão cidadãos muito bem preparados e mais conscientes.