Marina Manda Lembranças L i no jornal Le Monde – generosamente enviado por meu amigo, o editor José Mario Pereira – que duas equipes de cie...
Marina Manda Lembranças
A finalidade não era fabricar uma nova quimera, e sim produzir órgãos humanos em criações de animais a fim de suprir a falta de órgãos para transplantes. As células humanas foram produzidas em laboratório, partindo de células humanas de pele adulta, reprogramadas geneticamente para poderem se transformar em qualquer célula do corpo humano. E depois de injetadas, os embriões de macaco foram cultivados em laboratório por vários dias.
Podemos suspirar aliviados, porque a tentativa não teve êxito. Ao cabo de seis dias 132 embriões de macaco haviam sobrevivido, alguns dias mais tarde estavam reduzidos à metade, e passados alguns dias mais, só restava um terço. Espero que tenham sido jogados no lixo (hospitalar, é claro! Pois todo cuidado é pouco).
Quimera é um animal mitológico grego, que sobrevive até hoje no imaginário, nas lendas e nas redes sociais. Pertence a uma família de monstros, traz serpente, dragão e chamas no seu DNA.
É filho de Equidna e de Tifão. Equidna, metade serpente e metade mulher, tem a parte de cima com fartos seios para alimentar suas crias – é dita “mãe de todos os monstros” – , e a parte de baixo está mais para boa constrictor do que para serpente venenosa, embora veneno não lhe faltasse. Era uma gigante malévola que adorava devorar viajantes distraídos. E por ser gigante pode casar-se com Tifão que, de braços abertos alcançava oriente e ocidente. Dos seus ombros saiam, quando convocados, 100 dragões, e lançava chamas pelos olhos e boca.
Quimera Baby era monstro composto por três cabeças, uma de leão, uma de cabra e outra de dragão, e como se não bastasse, tinha cauda de serpente (olha a herança da mamãe!) acabando com a cabeça da própria. Assim como a mãe, é frequentemente representada com asas de dragão. E como o pai (mais modesta porém) expelia fogo pela boca.
Apesar disso tudo, Quimera era criada como pet pelo rei da Casia, monarca de gostos estranhos. Sem ligar para os bons tratos e os excelentes petiscos, fugiu da corte e foi se refugiar na montanha. Tempos depois voltou e tocou fogo em boa parte do reino.
Foi derrotada por Belerofonte, que a enfrentou montado em Pégaso cavalo alado, outro monstro embora seja sempre retratado branquinho, de crina e cauda ao vento, lutando com seu dono contra a força do mal.
As duas equipes de cientistas não estavam tentando produzir a Quimera moderna. Estavam tentando resolver um problema e salvar vidas humanas. Mas questões éticas foram levantadas. Embora todos estivessem de acordo para impedir a realização do contrário, ou seja, que células animais fossem injetadas em embriões humanos, perguntou-se porque o oposto foi permitido. Que lei ética põe os seres humanos acima dos outros seres vivos? Passa a ser questão de suma importância quando se propõe o respeito à natureza e ao planeta Terra.
Modestamente, e de forma absolutamente ignorante, pensei que injetar células humanas em embriões de macacos, fecharia um ciclo. Das árvores desceram nossos antepassados e, gentilmente, aprenderam a caminhar eretos para nos dar origem. Agora tiveram células do seus descendentes injetadas via experiência científica. E, apenas simbolicamente, às árvores retornamos com nossos ascendentes.