Marina Manda Lembranças V ou falar da mesa redonda de que participei nesta segunda-feira, assunto que pode, e deve, interessar não só aos ...
Marina Manda Lembranças
Vou falar da mesa redonda de que participei nesta segunda-feira, assunto que pode, e deve, interessar não só aos professores mas a todos os que transitam na área da educação, a autores e ilustradores.
A mesa em questão celebrava a poesia, ou mais exatamente o Prêmio Especial de Poesia concedido ao mexicano Adolfo Córdova, autor e especialista em literatura infantil, pela coletânea “Cajita de fósforos”. Ele , é claro, participava da mesa.
E participavam também:
Morag Styles, membro do Juri, durante anos professora de Poesia infantil, e autora do livro “From the Garden do the Street” (do jardim à rua) que abrange 300 anos de poesia para crianças em língua inglesa.
Bernard Friot, autor de um documento, apresentado oficialmente na Feira “ Universal Rights to Poetry” (direitos universais à poesia) e diretor artístico de um evento internacional sobre poesia escrita por crianças, realizado em Castel Maggiore, nas cercanias de Bologna.
Juan Kruz Igerabide e Iñigo Astiz, poetas do País Basco.
Eu, porque um poema meu havia sido incluído na coletânea.
E a debatedora, Grazia Gotti, livreira que já conhecia o trabalho de todos, e autora de “Come um giardino, leggere la poesia ai bambini” (como um jardim, ler poesia para crianças).
Morag Styles falou da dificuldade enfrentada pelos jurados, diante da quantidade de livros excelentes. E eu secretamente me surpreendi que a Feira não tivesse atentado antes sobre tema tão importante quanto a poesia .
Foi lido pela tradutora, Alessandra Valtieri, o documento/manifesto de Bernard, já traduzido para várias línguas e que deveria ser traduzido rapidamente para o português. E ele disse ter-se baseado, como princípio, numa frase de Gianni Rodari “tutti gli usi della parola a tutti” (todas as utilizações da palavra para todos). E considerar a poesia, ao contrário do que a maioria pensa, o gênero mais fácil entre todos e o mais democrático .
Adolfo enumerou tudo o que uma caixa de fósforos pode conter, brilho de estrela e gota de chuva, canto de pássaro e arco-íris, pesadelos e sonhos, coisas abstratas e coisas reais. Não disse, por modéstia, que a sua continha poemas que, quando lidos, emitem luz intensa iluminando a alma do leitor.
Jean Cruz falou em basco, e trouxe sua própria tradutora porque só bascos são capazes de traduzir a própria língua. É um autor de poesia para crianças que me pareceu mais tradicional.
Já Iñigo Astiz apresentou poemas orginalíssimos, bem humorados e onomatopaicos, que devem divertir enormemente os pequenos leitores. O que me chamou mais a atenção foi o do canguru, que desenhava o pulo do bicho com o próprio som do pulo. Boing, boing, boing… e a palavra/som ia saltando.
Eu disse que achava a infância a idade mais indicada para introduzir a poesia. E o afirmava baseada em dois depoimentos. O primeiro da colombiana, minha amiga do coração, Yolanda Reyes, que comanda uma bebeteca para os mais pequenos, de um ano até 4 anos. Ela me disse que quando se lê poesia, eles se aproximam para ouvir “a língua que canta”, tomados de interesse e sensibilidade especiais. São “escutadores” poéticos. E me disse que eles precisam de poesia para “trabalhar” a linguagem, para “aprender“ o ritmo das palavras.
O segundo depoimento conto na semana que vem.
Ilustração: Ted Tollefson