Marina Manda Lembranças E stão nos pedindo para economizar água e luz a fim de evitar apagões que, somados à pandemia, seriam ainda mais cat...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Economizar, não só água e energia mas tudo e qualquer coisa é dever social que não deveria depender de uma solicitação, sobretudo quando feita em tom de ameaça.
Mas os brasileiros, convencidos desde sempre de terem um sistema hídrico inesgotável, não têm costume de economizar sequer uma gota. Hoje mesmo, saindo para caminhar, fui surpreendida por vários porteiros lavando a calçada a poder de mangueira. E deixando a água jorrar bem além do indispensável.
Donas de casa deixam a torneira aberta enquanto vão buscar coisas na geladeira, todos deixam a água correr sem necessidade enquanto escovam os dentes, e debaixo do chuveiro a demora é maior pelo puro prazer de sentir a água quente escorrer sobre a pele do que por dever de higiene.
O capítulo chuveiro tem que ser destacado. Quase ninguém sabe que o chuveiro elétrico é uma invenção brasileira – invenção de que não devemos nos orgulhar. Por volta de década de 30 as grandes cidades do país não tinham rede de gás para aquecimento da água. No norte e no nordeste não fazia falta, mas no sul, no inverno, não dava para tomar banho frio nem para aquecer a água do banho no fogão. A solução foi inventar o chuveiro elétrico. Que só se usa no Brasil e em poucos países africanos. Os americanos chegaram a apelida-lo “suicide shower”, considerando que juntar água e eletricidade só se for tentativa de morrer.
Lembro de uma viagem a Fortaleza quando me disseram que alemães estavam comprando as casas de um condomínio para virem passar o verão perto do mar. Mas exigiam modificações. Em primeiro lugar, trocar o chuveiro elétrico por outro a gás, coisa de que não abriam mão. Segunda modificação, ampliar todas as janelas para verem o que haviam vindo buscar.
O chuveiro elétrico não só é considerado perigoso pelos estrangeiros – mas de modo algum para os nativos – como gasta muita energia. O que, em tempos de reservatórios vazios como o que estamos atravessando, junta dois desperdícios. E o desperdício de energia se faz maior nos centros urbanos cheios de favelas. Porque na favelas vigora o gato, e com gato não se paga nem um pelo (peço desculpas pelo trocadilho) de conta de luz. O que permite longas demoras debaixo do chuveiro, e deixar o ar condicionado ligado ao sair para encontrar a casa fresquinha ao chegar.
Em matéria de energia demoramos demais para aderir à energia eólica. Meu queridíssimo amigo, já falecido, coronel da aeronáutica Jorge Dihel, lutou muito no final dos anos 70 para introduzir no Brasil as grandes hélices. Não conseguiu, encontrou obstáculos legais e deparou-se com o descrédito generalizado.
Mas hoje a energia eólica é a fonte de eletricidade mais usada na Espanha, e em 2011 o maior parque eólico do mundo avançava na China. Felizmente, o tempo trouxe mudanças.
Israel construiu a maior torre solar do mundo e anunciou que até 2030 pretende gerar 1/3 da sua eletricidade a partir do sol. Eu olho do alto da minha cobertura em Ipanema, e no topo dos prédios, no telhado das casas que ainda sobrevivem não vejo nem uma placa solar. Há fazendas geradoras de energia, mas as placas benfazejas ainda não alcançaram o consumo individual. Seria tão bom vê-las no telhado da escola, ainda que somente para mostrar às crianças como é importante para o nosso planeta, usar energia alternativa. Aliás, vi na internet que existe um boiler movido a energia solar. Que tal trocar o famigerado chuveiro elétrico por um boiler desses?