Marina Manda Lembranças E stou bem mais preocupada com as Mudanças Climáticas, definidas pelo secretário-geral da ONU como um “código vermel...
Marina Manda Lembranças
Pestes, modernamente chamadas de pandemias, a história registra muitas. Volta e meia, em algum país, explode uma epidemia qualquer, que pode ser de ebola ou de cólera. A pior delas foi a Peste Negra, que durou 16 anos em plena Idade Média e teria matado cerca de 200 milhões de pessoas. Voltou a atacar Londres três séculos mais tarde, matando um quinto da população da cidade, e foi descrita no livro ”Diário do ano da Peste” de Daniel Defoe, que a viveu quando criança. A segunda pior foi a Gripe Espanhola, que calcula-se ter sido responsável por 100 milhões de mortos. À medida que a medicina avança, as pandemias se tornam menos letais. A covid19, até agora, mesmo tendo se espalhado no mundo todo, matou pouco mais de 4 milhões.
Mas não há medicina que contenha o fogo - como os que estão acontecendo na Grécia e na Turquia - os desabamentos provocados pela chuva intensa, os tsunamis, as inundações - como as que acabam de acontecer na China - agora mais prováveis pelo elevar-se dos oceanos.
Sábado em Siracusa, cidade do antigo Império romano na Sicília, os termômetros marcavam 50 graus. Nem ouso pensar no que pode estar aprontando o próximo verão do Rio, já que a temperatura só faz aumentar.
O alerta do relatório lançado pelo IPCC da ONU sobre Mudanças climáticas foi enfático: em uma década atingiremos o ponto de não-retorno, quando ecossistemas entrarão em falência. E dez anos passam num piscar de olhos.
Mas o Brasil não está fazendo o dever de casa, assim como não o fez em relação à pandemia. Muito pelo contrário.
Em vez de limitar o desmatamento, o favoreceu diminuindo consideravelmente o número de fiscais. Em vez de limitar as emissões, reviu a metodologia, o que permitiu maior poluição em vez de menor. Em vez de tratar a água para torna-la potável, trata rios, riachos e córregos como latas de lixo onde tudo se atira.
Se não cuidamos da nossa história, por que cuidaríamos da mata? Prédios históricos desabam, por que não desabariam as árvores? Se derrubamos a educação – as universidades federais estão, literalmente, caindo - por que não derrubaríamos o clima? Se estamos destroçando a cultura – o incêndio da cinemateca depois de anos de abandono, é exemplo mais que eloquente – por que não destroçaríamos os biomas?
Em plena crise energética vale lembrar que o Brasil é o único país do mundo em que se utilizam chuveiros elétricos. E só não estamos ligando o ar condicionado porque estamos no inverno, colhidos por uma frente fria polar. Estivéssemos no verão, e as usinas veriam o que é bom para a tosse.
Os brasileiros não foram acostumados a economizar, só economizam quando são obrigados por não terem como pagar o que consumiriam. Sempre ouviram, dos pais e na escola, que o país é rico e fértil, que em se plantando tudo dá, que tudo cresce porque temos todos os climas. Foi-se o tempo!
Agora as secas provocadas pelo aquecimento do planeta alimentam o fogo, que consome as matas, que consumidas pelas labaredas emitem mais gases de efeito estufa, criando mais secas e alterando o ciclo das chuvas, num círculo vicioso que daqui para a frente só se intensificará.
E dez anos passam num piscar de olhos.