Antes de começar Quando a ideia de escrever esse livro me acometeu pela primeira vez, levei um susto. E tratei de descobrir rapidame...
Antes de começar
Quando a ideia de escrever esse livro me acometeu pela primeira vez, levei um susto. E tratei de descobrir rapidamente algumas boas razões para descartá-la. Como todos nós, eu estava encharcada de respeito, o amor me parecendo assunto demasiado transcendental, demasiado grande.
Mas a ideia não tinha surgido à toa. Era mais que uma ideia, era necessidade, plantada em mim, exigia a crítica. Concordei em atendê-la, mas com a condição: a de tratar o tem em luvas brancas, tirando-o da estratosfera para trazê-lo onde ele realmente vive, no meio, no nosso cotidiano.
E nessa viagem descobri que embora seja sempre tratado como um sentimento único, igual para homens e mulheres, o amor não é, pela simples razão de que homens e mulheres são diferentes e desempenham diferentes papéis em relação a ele. Tente, portanto, detectar as formas masculina e feminina de amor e os problemas que ocorrem quando procuramos fazer desses dois sentimentos uma coisa só.
E descobri também que, tendo forjado praticamente toda a teoria amorosa da história da humanidade - à qual as mulheres tentaram se adequar - , os homens , porém, pouco se manifestam quando se trata de falar do seu amor pessoal do seu apaixonar-se. Assim, a "razão amorosa" fala pela boca dos homens, enquanto a "emoção amorosa" fala pela boca das mulheres. Pareceu-me estar em boa hora para misturar as duas coisas.
Quero dizer ainda que elaborei minhas ideias mais especificamente em torno da relação heterossexual, não por ignorar a importância do sentimento homossexual, mas porque há muito optei por escrever só sobre aquilo que conheço com algo mais do que a razão.
Da mesma maneira preferi me ater ao comportamento amoroso da nossa cultura, porque é nela que vivo e porque é nela que meu amor se desenvolve, bem além do conteúdo de um livro e da minha capacidade de abranger o inesgotável.
Marina Colasanti In: E por falar em amor (Círculo do Livro, 1984)