Marina Manda Lembranças F ui à Escola Dyla, em Cidade de Deus, e se reacenderam minhas esperanças. Ok, na saída quebrei o nariz, tive que...

Marina Manda Lembranças
Dou o nome completo para localizar melhor: Escola Municipal Profa. Dyla Silvia de Sá. E esclareço que o endereço não é exatamente em Cidade de Deus, mas junto à fronteira com Pechincha, sendo considerada uma escola de Cidade de Deus porque de lá vêm a grande maioria dos alunos.
Fui a convite da professora Mariana Fragale, como homenageada de uma Feira Literária, a FLED, que está em sua segunda edição. Conversei com várias turmas de crianças. Depois assisti a um espetáculo lítero/musical apresentado por 12 pessoinhas de quatro anos, vestidas de amarelo, com orelhas postiças e o rosto maquiado de leão. Algumas babavam um pouco por causa das dentaduras postiças de fera ( ou de fera postiça), e todos tiveram que tirá-las para poder recitar, cantando, um poeminha meu sobre o rei dos animais. Percebo agora que não tinham caudas, e parece-me sábio, pois a professora certamente sabia que se embaralhariam nelas se as tivessem.
Tudo isso é gracioso, mas poderia ter acontecido em qualquer escola. Só depois, conversando com a diretora Maria Ângela Garcia, soube que justamente este ano, a Dyla deixou de ser uma escola qualquer.
Agora faz parte de um grupo de sete escolas diferenciadas, bilingues, que atendem crianças de 4 a 12 anos, em horário integral. Isso significa várias coisas. Significa alimentação balanceada e quase completa, porque as crianças recebem café da manhã, almoço, e um lanche reforçado. Significa, obviamente, uma escolaridade melhor, mais tempo para o aprendizado, e também para leitura e arte. Significa proteção, porque o dia transcorre sob os cuidados das professoras e, chegando em casa já cansadas essas crianças logo irão dormir, sem espaços vagos para brincar na rua, observadoras ainda frágeis de uma brutalidade que não convém aprender. Significa afeto, pois como afeto é vivido pelos pequenos o cuidado com que uma professora se ocupa do seu aluno.
E temos o bilinguismo. Maria Ângela me explicou que não se trata apenas de ensinar outra lingua formalmente, mas de inserir essa língua em todas as atividades, de maneira a facilitar a assimilação, tornando-a parte natural do dia a dia.
Expliquei tanto e teria sido suficiente dizer que a Escola Dyla foi selecionada, com outras seis, para realmente educar. Não é fácil, me disse Maria Ângela. Todos estão tendo que se adaptar à nova proposta. Não só as crianças. As professoras também buscam caminhos para esse novo papel tão mais importante do que o de uma "tia"por poucas horas diárias.
Minha visita havia acabado e já nos preparávamos para sair, quando paramos para mais uma foto. Uma foto que acaba sempre sendo duas ou três ou quatro, e mais uma para garantir. Afinal, findos os cliques, dei um passo em direção à porta. Porém, bem diante do meu pé havia um menininho de quatro anos, inesperadamente deitado no chão após um longo escorregão sobre o piso. E eu caí de cara no cimento.
Quebrei o bico. Mas isso é nada quando penso que as crianças da Dyla estão ganhando as asas.