Estado de Minas A “casa de Bach”, em Eisenach, não é a casa de Bach. Da sua verdadeira casa, aquela em que nasceu, não resta qualquer ve...

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O teto é baixo, os cômodos são pequenos, não há uma única linha realmente reta. A construção cedeu ao longo do tempo, ou melhor, acomodou-se vencendo as velhas vigas, curvando-se. E os pisos rangem alto, como rangem os pisos de madeira que ainda se conservam vivos. Há um quarto de dormir, a cama de quatro postes fechada com cortinado para vencer o frio e, ao lado, um berço. Terá havido berços com frequência no verdadeiro quarto de Bach, que teve vinte filhos com suas duas esposas.
Há uma sala, a sala de jantar, e uma cozinha bem pequena, fogão a lenha e utensílios da época. E o cômodo onde Bach compunha, a mesa de trabalho com o tinteiro, as plumas, o raspador e, debaixo da janela, o clavicórdio. Era o laptop de Bach esse instrumento gentil e pequeno, capaz de tocar baixinho para não invadir vizinhos, que Bach usava para compor e levava em suas viagens.
Anexo à casa, um museu moderníssimo permite ouvir as obras do mestre em qualquer volume, tocadas em instrumentos preciosos por preciosas mãos. Os vizinhos não são incomodados, a modernidade ouve com fones.
Lá fora, o verão já chegou. Não na temperatura, nem no calendário, mas nos intermináveis campos de colza em flor, que, como um sol, iluminam de amarelo a paisagem. Uma paisagem mansa e ondulada, onde árvores há pouco plantadas, iguais e a igual distância, marcam limites e posses. Nenhuma máquina agrícola à vista, nenhum trabalhador inclinado sobre a terra. O trigo novo cujas espigas começam agora a aparecer parece crescer por conta própria. Nesse cenário tão antigo, só as hélices de captação eólica pousadas como garças sobre as longas hastes claras nos lembram que estamos em tempos modernos.
Em Weimar, charretes com cocheiros vestidos a caráter tentam nos devolver a tempos passados. E a casa de Goethe é, de fato, a casa em que ele viveu.
Grande e elegante, nessa cidade igualmente elegante que foi centro de inteligência na Alemanha. Salas e salinhas interligadas, de jantar, de estar, de música, de conversa e também passagens, degraus, corredores, quartos. Uma casa que testemunha a intensa vida pessoal e social do dono, paredes cheias de desenhos e gravuras, vitrinas com a coleção de maiólicas italianas, cópias de bustos greco-romano sobre os móveis. Em seu generoso desdobrar-se labiríntico, a casa abriga vários cômodos para os estudos de botânica e de mineralogia que apaixonavam Goethe, com tantos móveis de gavetinhas, provavelmente arquivos. E no escritório do poeta, mesas diversas nos dizem da diversidade dos seus interesses, uma escrivaninha, uma mesa alta, uma mesa inclinada e regulável como uma prancheta, uma espécie de balcão. Ligado ao escritório, um quartinho franciscano, cama estreita, mesinha de cabeceira, cadeira. E lá fora, o jardim multiflorido.
Encantada com essas duas casa, ainda verei a de Mendelssohn, em Leipzig.