Estado de Minas H avia me proposto não falar do caso Matsunaga. Nada sei dessas pessoas. Sua vida era inexistente para mim até o momento...
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Destaco dois pontos: o sangue frio e a prostituição.
Muito se tem falado do sangue-frio com que Elisa arrastou o corpo, esperou passar o tempo necessário para a coagulação e o esquartejou, para em seguida proceder à embalagem e à desova. Debruço-me sobre a cena e o sangue-frio que tanto nos arrepia me parece improvável.
O que esfria o sangue humano vivo não é a passagem do tempo. É a situação. E a situação de Elize só fez tornar-se mais e mais dramática. A partir do tiro, tudo há de ter sido tensão. Pois tendo liquidado a vida de Marcos, foi a vida dela que entrou em jogo. Ao ser descoberta, perderia a filha, que, segundo a defesa, havia sido a causa primeira da tragédia. Perderia o dinheiro. E voltaria à sarjeta da vida, para onde o marido havia prometido devolvê-la.
Se não apagasse todos os vestígios da sua atuação no crime, se tornaria – ironia extrema – a executora das piores ameaças de Marcos, justamente aquelas que a haviam levado a matá-lo. É de se crer que o medo tenha comandado toda a operação post mortem. E o medo não acontece a sangue-frio. Frio, ali, só o sangue do defunto.
Antigo hábito é dizer que a razão é fria, enquanto a emoção é quente. Não se trata de uma questão térmica. É um artifício para dissociar uma da outra e tentar entender essa mistura indissolúvel que nos habita e que, aos trancos e barrancos, nos move.
Elize havia sido prostituta. Essa, dizem, é a outra questão.
Mudemos o ângulo. A questão é: Marcos gostava de prostitutas. Um homem que frequenta site de garotas de programa e dali tira uma mulher com quem acaba se casando, e depois outra que torna sua amante, não o faz por acaso. Ele se excita com prostitutas e, talvez, só com elas.
Diferente é o homem que uma noite, numa esquina da vida, encontra uma prostituta e acaba se apaixonando. Esse frequentador eventual, ao casar com a prostituta pela qual se encantou, casa-se com a mulher, não com a profissão dela.
O caso Matsunaga segue por outro trilho. Quando ele a escolhe no site, ainda é casado. Durante alguns anos, Elize continua desempenhando o papel de que Marcos gosta, agora como amante. A paixão é tórrida. Marcos acaba se separando e se casa com Elize. Então, ela comete o erro fatal: engravida. Quando a filha nasce, já não há paixão de qualquer espécie. Elize quebrou o pacto que os mantinha ligados, não só deixou de ser prostituta ou de representar esse papel, como fez pior, tornou-se mãe, santificou-se.
Perdida a prostituta, Marcos não tolerou a santa que havia tomado o seu lugar. E na mesma horta onde havia colhido a primeira, foi procurar outra de igual sabor.
A tragédia pôs-se a caminho. Marcos não podia renunciar à sua satisfação sexual. Elize não podia voltar a ser prostituta. E havia muitas armas naquela casa.