Estado de Minas P recisamos falar dos rododendros. Tema botânico não emplaca crônica, sei disso. Mas os rododendros a que me refiro são ...
Estado de Minas
Conheci-os primeiro na Louisiana, há muitos anos, um escândalo de beleza que aos tons de vermelho acrescentava amarelo e cor de telha. E os reencontro agora em Hamburgo, beirando todas as ruas, abençoando os jardins diante de casas e antigos prédios, tingindo de roxo, lilás, vinho, shocking, rosa pálido e até branco esta cidade que durante tantos meses esteve envolta no jejum cromático da neve.
É aí que o rododendro deixa de ser uma questão puramente botânica para se tornar uma escolha urbanística, parte do grande fenômeno social que é uma cidade.
Em primeiro lugar, a uniformidade. Não são rododendros e lilases e hortênsias e o que mais viesse a florescer nesta época do ano. São , praticamente, só rododendros. No Brasil, chamaríamos isso de monotonia, uma chatice, cada um que plante no seu jardim o que bem entender. Nosso modo de pensar nos diz que o jardim é um espaço individual, e não parte formadora de um conjunto. Encaramos da mesma forma a arborização das ruas. Na minha, em Ipanema, a jaqueira deu gordas jacas este ano, temos um pinheiro mais alto que o prédio diante do qual continua crescendo e uma goiaberinha meiga e generosa, além de espécies arbóreas variadas, algumas até geridas pelo Departamento de Parques e Jardins. No que pese nosso individualismo, entretanto, ruas e jardins não foram criados no intuito de reproduzir a selva, mas, sim, de criar sua versão ordenada.
Em segundo lugar, o florir. A cidade florida é mais ligada à natureza, nos diz de imediato em que época do ano estamos, conserva um tempo menos frenético que o dos relógios. A cidade florida é mais alegre, e revela um cuidado cheio de delicadezas. A flor, esteja no florista ou no canteiro, é recado de benquerer.
Então, por que nossas cidades não são floridas? Quando o Parque Lage, no Rio, era residência da minha família, as moitas de azaleias e de gardênias eram tantas que se sentia o perfume passando de bonde na Rua Jardim Botânico. Vendida a propriedade, ninguém mais se ocupou do perfume e os arbustos floridos acabaram morrendo. Nossas cidades não são floridas porque plantar e manter flores dá trabalho, custa dinheiro, e não conseguimos ver motivo real para esse investimento. Parece-nos um luxo desnecessário, como importar rosas colombianas para festas de casamento. Alguma coisa que deixaremos para depois, quando todos os outros problemas estiverem resolvidos.
Ordenar uma cidade pela beleza não é luxo, nem é desnecessário. Constitui mensagem muito mais eficaz do que o material publicitário que os departamentos turísticos gastam tanto para veicular. E as mensagens, sejam quais forem, são melhor recebidas quando dadas por flores