Estado de Minas O mico morreu. Não o mico leão dourado que, felizmente, ainda não está extinto, mas aquele mico mais antigo que atendia...

Estado de Minas
Tinha uma função, o pobre. Não à toa se manteve em serviço durante tantos séculos. Servia como uma espécie de filtro, permitindo ao que era novo – novos hábitos, novas modas, novas palavras, novos chegados a uma classe social- fundir-se progressivamente com a tradição e, graças à sua assimilação, modificá-la aos poucos. Algo como o abafador de certos instrumentos, que deixa o som sair, mas tênue.
E foi justamente o novo que, talvez em vingança por ter sido contido, o matou. Teve cúmplice, porém. O ridículo morreu esmagado entre a busca ávida por tudo aquilo que chega como novidade, e a permissividade.
Terreno resvaladiço, o dessa conversa, porque a qualquer descuido despenca-se no politicamente incorreto. Mas não haveria no medo do politicamente incorreto um toque de ridículo?
Quem se atreve a dizer que nem tudo é para todos, que altos e magros e baixos e gordos e jovens e velhos não são uma única coisa, e que aquilo que fica bem em uns fica risível em outros? Quem ousa afirmar que o espelho deveria ser melhor conselheiro que a vitrina? Quem se arrisca a falar que nem toda atitude, em nem todo momento, é válida?
É tão mais simples rir escondendo-se atrás do velho “gosto não se discute”, ou repetir que cada um tem o direito de escolher o que bem entende. Nesse nosso tempo de encantamento com a livre iniciativa, tornou-se comum confundir desejo pessoal com subserviência ao mercado, ver a escolha e ignorar a manipulação que a conduziu.
O senso do ridículo não era, como o vemos atualmente, um elemento puramente repressivo. Nem era classista. Estava presente em todas as classes sociais, peça útil no mecanismo social, que mais do que vitimar, protegia os indivíduos. Evitava certas atitudes, sobretudo aquelas imitativas em que o indivíduo, não tendo certeza de estar imitando com perfeição, sentia-se -e estava- fora de esquadro. Amalgamava os grupos sociais.
A morte do coitado aconteceu justamente porque o que se quer não é mais fazer parte de uma amalgama, e sim, distinguir-se dela. O indivíduo que antes despertava o riso por estar destoando, agora chama a atenção pela ousadia, pela diferença, pelo exagero. E os três itens são a desejar.
O que a cultura Pop atirou na cara da sociedade como escandaloso ou revolucionário foi seqüestrado pelo sistema, jogado nas gôndolas e nas araras dos mercados do mundo, aceito, massificado, e consumido. Ninguém se preocupou em procurar entre os destroços do passado que atulharam as cestas de lixo. Quem o fizesse teria encontrado o cadáver do senso do ridículo.