Estado de Minas E stamos chegando à vida cada vez mais cedo. Não pelas mãos do obstetra, que nisso continuamos obedecendo ao prazo tradic...

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Evita Nuh tem 12 anos e um blog, jellyjellybeans. No fim do ano passado, lançou sua própria marca de roupa, a Little Nuh. Quando as pessoas se surpreendem com sua pouca idade, rebate com a resposta pronta: “A genialidade não tem nada a ver com a data de nascimento”.
Perto dela, nossa bela modelo Dani Witt era quase uma senhora quando, aos 16 anos foi abordada por um olheiro numa rua de Caxias do Sul. E Tavi Gevinson, a famosa blogueira do mundo fashion, respeitada até pela feroz Anna Wintour, se sente tão velha aos 16 anos, que já está cuidando da sua autobiografia.
O mercado exige novidades em fluxo constante, não pode esperar por diplomas, o que está valendo é a ousadia aliada ao talento. Para o bem, ou para o mal.
Em Harnhem, cidadezinha holandesa de 150 mil habitantes, a jovem Joyce Hau, que gostava de fofocar em rede, postou intrigas sobre a vida sexual de uma amiga. Indignados, a amiga e o namorado decidiram matá-la. Pelo Facebook, ofereceram mil euros a quem fizesse o serviço, e Jim Hua K. , de 14 anos, ofereceu-se. Sequer conhecia sua futura vítima. Durante três meses, recebeu pela internet as informações necessárias e elaborou o plano com o casal. Chegado o dia, Jim tocou a campainha da casa de Joyce, o pai abriu a porta, ele derrubou o pai e cravou o punhal em Joyce, que ia chegando. Cinco dias depois, ela estava morta. Tinha 16 anos.
Nossos pequenos infratores, assaltantes, olheiros ou soldados do tráfico, não estão tão fora do contexto. No Rio, seu número aumentou 52,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas talvez devam ser vistos como um fenômeno da modernidade, juntamente com o jovem chef Greg Grossman, que aos 12 anos já dirigia um serviço de bufê em Hampton, balneário de luxo perto de Nova York. Ou com o ídolo Farrah Gray, que, negro e pobre, conseguiu faturar seu primeiro milhão aos 14 anos.
Os nossos, infelizmente, não precisam dos conselhos que circulam em blogs destinados aos jovens empreendedores, onde se explica como fazer para “ser levado a sério apesar da idade”, ou “como se organizar entre escola e trabalho”, ou ainda como “não se deixar desencorajar pelos pais”. Qualquer um deles, porém, poderia se apropriar da declaração de Xavier Dolan, diretor canadense de cinema, que aos 17 anos escreveu o roteiro de seu primeiro longa, Matei minha mãe: “As pessoas se irritam porque não fico tremendo que nem uma folha. Não suportam a segurança, sobretudo nos jovens”.
Os jovens estão seguros porque a experiência dos mais velhos, não sendo mais moeda forte, podem apostar todas as fichas na invenção de si mesmos. E porque sabem que no mundo ao qual estão chegando não precisam ficar presos a uma única profissão, uma única escolha. Podem-se deixar levar ao sabor das oportunidades, buscar o sucesso tendo como colete salva-vidas a onipotência que a juventude fornece, e o talento que têm certeza de possuir.
Os caçadores de talentos farejam nos clubes de subúrbio, rondam as portas dos colégios, passeiam atentos nos shoppings. Os bebês nas creches já se agitam, não demora e chegará a sua vez.