Estado de Minas F oi inaugurada no Rio a nova Meca dos novos ricos, um shopping, perdão, um mall – shopping é coisa de novos pobres- que...
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Tento equacionar meu conceito de luxo com o conceito estabelecido por alguns dos produtos do novo mall .
Custa 40 mil o baú Louis Vuitton que, de acordo com a bula, é um remake dos usados pelos nobres franceses do século XIX. Minha mãe não era uma nobre francesa, nem era do século XIX e, para meu encantamento de menina, tinha um baú desse tipo. Chamava-se ”baú armário” porque, mantido na vertical, abria-se em dois, tendo de um lado gavetas sobrepostas, e do outro o cabideiro e a sapateira. Era especialmente cômodo para viagens de navio, quando, colocado diretamente na cabine, permitia exibir a elegância sem ter que desmanchar a mala. Ao atracar do navio no porto, bastava fechar o trinco dourado, e chamar o carregador. Não sei, hoje, que utilidade teria num avião. O baú da minha mãe, que saído de uma loja qualquer de Roma havia ido para a África e dali de volta à Itália, acabou vindo para o Brasil. Brinquei muito com ele, e luxo supremo era para mim o casaco de veludo azul safira com gola de raposa preta, feito por uma costureira da família, e esquecido para sempre dentro dele.
Custa 580 mil o anel de diamante amarelo da Tiffany. É uma pedra estupenda, cor de ouro. Até recentemente, uma pedra assim haveria de ser pousada sobre o dedo, como se suspensa, retida apenas pelas garras do engaste; o solitário era a maneira mais perfeita de expor o valor de um diamante. Vi solitários belíssimos nas mãos da minha tia avó, alguns de cor, usados com displicência. O luxo estava na displicência. Mas a pedra de que falo está rodeada por duas largas fileiras de brilhantes, e mais brilhantes recobrem o aro. Toda a beleza do diamante cor de ouro já não é suficiente para quem quer exibir o poder do cartão de crédito.
O mesmo vale para o relógio Cartier de 164 mil. A elegância dos números romanos no mostrador, a pureza das linhas, até mesmo o ouro da pulseira agora não bastam, mais vale comprometer o design acrescentando pelos lados duas fileiras de brilhantes.
Tempos de Natal, que tal uma garrafa de Moet & Chandon por 13 mil? Contêm 3 litros de um dos melhores chamanhes do mundo, mas não é essa a razão do preço. A razão está explicada no nome, “Golden Lace Jeroboam”, uma rede dourada, como uma cota medieval, envolvendo toda a garrafa, e um placa, certamente dourada, para gravar o nome do dono. Pergunto-me o que faz o dono depois de beber o conteúdo: joga a garrafa fora, exibe-a vazia sobre um móvel da sala, ou pega um funil e outra garrafa cheia para encher a preciosa longe do olhar das visitas? E eu, tonta, que sempre achei luxo a garrafa empoeirada, vinda da adega da mansão, fresca ainda de tanto sono entre pedras.
Haverá certamente uma multidão no novo mall, percorrendo as vitrinas em busca do luxo. Mas o luxo, como eu o concebo, é outro. Hoje, seria ir ao MASP, em São Paulo, para ver mais uma vez “Mulher de Azul Lendo uma Carta”, de Vermeer