Estado de Minas A menina aparece de repente na esquina entre duas gôndolas de produtos de beleza, passa por mim correndo, desvia de um c...
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Adam Mansbach, um americano esgotado pelas manhas da filha de dois anos, acabou transformando-as em dinheiro ao vender mais de 500 mil exemplares do seu livro “Go the fuck to sleep ” ( Vai para a porra da cama). Não li o livro, mas o titulo soa mais como um rompante humorístico do que como o enunciado de uma tese sobre educação. E 500 mil pais o compraram, ávidos para saber como se manda um filho de apenas dois anos para a cama.
Poderiam ter lido o livro da mãe tigresa Amy Chua, que com um decálogo de apenas 5 pontos mostra, em termos domésticos, como e porque a China ganha tantas medalhas de ouro em esporte e tantos lugares de destaque nas orquestras. É simples, desde pequeno deve-se proibir ao rebento: dormir fora de casa, brincar com outras crianças, assistir TV ou jogar videogame. E exigir: ser sempre o 1º em tudo, tocar piano ou violino com perfeição. Como arremate: qualquer nota escolar abaixo de 10 não deve ser tolerada.
Na década de 60 embarquei na educação da minha primeira filha com o olhar iluminado de quem ouviu vozes. Eu e a minha geração tínhamos ouvido o apelo libertário de Alexander S. Neil que, com sua experiência em Summerhill, nos exortava a romper os grilhões educativos das crianças. Liberdade sem medo era o lema. Somava-se à famosa frase da psicanalista francesa, Françoise Dolto: “as criança têm só direitos, os pais, obrigações.”
Assim, de soma em soma, chegamos ao ponto que nos desespera, o império das crianças dominadoras.
Elas não obedecem, porque os pais acham que obedecer é submeter-se, e a submissão enfraquece o caráter. Elas exigem veementemente tudo o que querem, porque os pais estão convencidos de que negar seus desejos equivale a criar frustrações. Elas questionam a autoridade, porque os pais não a exercem com convicção. Elas não conhecem limites porque nenhum limite lhes é imposto. Como escreveu um jornalista francês, são desde cedo “drogadas no prazer imediato”.
Programados, esperados ansiosamente, fotografados desde o útero, nomeados bem antes de nascer, louvados, treinados para o fascínio das marcas e o exercício da posse, adestrados em aulas e cursos para brilhar em qualquer domínio, esses filhos muitas vezes únicos, e para quem se quer dar tudo o que não se teve, não são exatamente mais felizes do que o foram as crianças de outros tempos. E nada nos leva a crer que venham a ser mais aptos para a vida.
Educar os filhos é uma lenha, sobretudo porque só nos é permitido acertar. Mas parece evidente que, entre a rigidez da mãe tigresa e o pobre pai em desespero, existe um ponto intermediário mais equilibrado, aquele que, sem tantas fórmulas ou decálogos , se deixa guiar pelo bom senso.