A tia narradora de grandes aventuras existiu na vida real. A casa mal assombrada, embora muitos não acreditem, também. As histórias que...
A tia narradora de grandes aventuras existiu na vida real. A casa mal assombrada, embora muitos não acreditem, também. As histórias que lá se passaram são verdadeiras. Coube à autora dar a forma ideal para suas memórias de infância em "Minha Tia me Contou", livro que a escritora Marina Colasanti lança hoje na programação do projeto Sempre um Papo. A tia a qual o título se refere foi ninguém menos que Gabrielle Besanzoni Lage, importante cantora lírica, cuja postura sempre impressionou a então menina Marina Colasanti.
"Eu tinha dez anos quando cheguei ao Brasil e a conheci de perto. Ela era muito especial, não era uma pessoa do cotidiano, mas uma diva, uma estrela, com tudo que isso implica", recorda a autora, que não costuma utilizar as lembranças como mote para suas obras. "Alguns escritores trabalham muito com a memória, outros com realismo. No meu caso, em geral, não trabalho nem com uma fonte nem com outra. Mas acho que nesse livro as memórias tinham um interesse maior porque a tia é verdadeira, um personagem maravilhoso assim como as histórias que ela conta. E, no mais, é um livro de aprontação de garotos, de aventura", afirma.
Mas o leitor que não espere o tom de contos de fadas ou causos que comecem com as já tradicionais expressões do "era uma vez". "Espero ter construído um estilo próprio na minha literatura. Não é a mesma linguagem de quando escrevo os contos de fadas, por exemplo. Prefiro uma narrativa realista, sem elementos fantasiosos", adianta. "Agora, a minha tia certamente não era do tipo que contava histórias da carochinha, ela contava coisas picantes inclusive. Na verdade, ela era uma diva que usava solitário no dedo do pé", brinca a escritora. Marina ressalta o prazer da volta ao passado.
"Foi uma verdadeira viagem à minha infância, da vivência de chegar ao Brasil. E sem contar o prazer de fazer isso de uma forma literária, fazendo os cruzamentos, as ligações, buscando a melhor forma de inserir as histórias da tia", reconhece. A escritora afirma que escrever para o público adulto e infantil demandam, no seu caso, exercícios diferentes.
"Na minha literatura infantil, não quero ser didática, o livro não tem mensagem específica nenhuma, não quero ensinar nada nesse sentido. E eu também não faço adaptações de linguagem. Na verdade, a diferença entre os dois exercícios pode estar nas estruturas, na forma de olhar, na escolha dos elementos para narrar. Mas sempre com o desejo de que seja uma boa leitura, tanto para os adultos quanto para as crianças", garante.