Apresentação Affonso Romano de Santanna Casado com Marina há onze anos, acompanho, seduzido, sua maneira de escrever contos infant...
Apresentação
Affonso Romano de Santanna
Casado com Marina há onze anos, acompanho, seduzido, sua maneira de escrever contos infantis. Infantis? Não. Contos legíveis para adultos e crianças, que fascinam Alessandra de nove anos ou Fabiana de dezesseis. Ou a mim de quarenta e cinco. Vejam só como a carreira de uma escritora é caprichosa: quando Marina escreveu Uma Ideia Toda Azul, em 1976, não encontrava editor que se entusiasmasse. As desculpas eram as mais estapafúrdias. Uma editora chegou a dizer que queria um livro, mas só para a faixa dos seis aos oito anos. Ora, vejam só, que loucura de pedagogismo é esse. Vai, o Jaime Bernardes da Nórdica se empolgou, e o livro, que havia ficado quatro anos na gaveta, saiu. Saiu, virou logo best seller, foi adotado em dezenas de escolas com alunos de seis a sessenta anos, ganhou diversos prêmios, foi editado pelo Círculo do Livro e traduzido para o francês.
É isso aí. Agora vem esse novo livro, com ilustrações também da Marina, trabalhadas rigorosamente. Refeitas inúmeras vezes, como inúmeras vezes vi Marina refazer seus textos. Quando minha mulher escreve a casa toda fica em atmosfera de encantamento. As meninas ou a empregada Maria Lúcia, todos participam. Os contos são contados, testados, discutidos, disputados. É um trabalho familiar em torno dessa "moça tecelã", que tira reis, garças e unicórnios das mãos, com a mesma singeleza e integridade com que faz um vestido para ir numa festa daqui a uma hora, ou inventa um prato fantástico para o jantar.
Há pessoas que lêem estórias de fada. Eu vivo com uma.
Rio de Janeiro, dezembro de 1982