Marina Manda Lembranças M ais que os gols, chamam a atenção nesta Copa os penteados dos craques. Cachos, cristas, moicanos, recortes, ri...
Marina Manda Lembranças
Mas da coitadinha da barba ninguém fala. Ninguém parece reparar que todos os jogadores mais bonitos, assim como boa parte dos nem tanto, têm maxilares e queixo coroados. Mais modesta em termos de criatividade, apresenta-se porém igualmente cuidada. A seleção italiana, por exemplo, ostenta barbas tão bem cortadas quanto seus ternos Dolce & Gabbana.
Não é só nos estádios. Depois de um século de pouca aceitação, a barba voltou a ser sinônimo de virilidade. Elemento compositivo do gênero bad-boy , adequa o rosto ao jeans rasgado, aos tênis, às tatuagens. É a barba fazendo de conta que não chega a ser barba, que está ali por esquecimento ou falta de lâmina, um centímetro apenas, como se fruto de ressaca. É exatamente aquela em que, no passado recente, o homem passava a mão a contrapelo dizendo para si mesmo, esqueci de fazer a barba.
Meu pai usava navalha, ou pelo menos usou por um tempo quando eu era pequena. Navalha afiada na tira de couro, para meu fascínio. Tive na adolescência um namorado que também se barbeava com navalha e um dia pediu para passá-la na minha perna; deixei, sentindo-me valente e exposta como mulher de atirador de facas no circo. A pele ficava suave como veludo.
Agora a barba nem se raspa nem se deixa crescer, conserva-se entre uma coisa e outra, quase em suspenso. E nessa suspensão qualquer falha grita aos olhos. A quase barba exige ser compacta. É aonde entra o implante de barba.
Os melhores e mais baratos estão sendo feitos na Turquia. Já não se vai a Istambul para visitar o museu Topkapi ou hospedar-se no Hotel Pera Palace, aquele que recebia os passageiros do Orient Express e onde Agata Christie se homiziou numa fuga doméstica, mas para “fazer a barba”. 40 mil novos barbudos foram produzidos pela Turquia, só no ano passado. O preço é atraente, sobretudo se considerados em relação ao de outros países. Uma barba completa custa entre dois e três mil euros, bigodes incluídos, mas podemos acreditar que um remendo na zona do agrião saia mais barato. De pelo em pelo, 2013 rendeu à Turquia cerca de 100 milhões de dólares.
O processo não chega a ser inovador, é o mesmo do implante de cabelos. Preleva-se um tufinho de cabelos do alto da nuca, e implanta-se no rosto. Com anestesia local, é claro. A cada sessão, migram no máximo 1000 pelos, o que torna necessários vários rounds. Vale perguntar quem faz a contagem, e se o preço é estabelecido por pelos transportados, ou por centimetragem coberta.
Até aqui, nada que surpreenda, além da vaidade viril sempre tão negada. O surpreendente é o que acontece em seguida. Cicatrizados os furinhos todos, superados dor e vexame, os fiapos pilosos que até então haviam-se comportado como cabelos, adequam-se ao novo território, pedem cidadania, e se transformam em autênticos fios de barba. Como tais, passarão a crescer - ou a semi crescer, já que o comprimento da hora não passa de um centímetro. É a natureza curvando-se à moda.