Marina Manda Lembranças F alta o último debate. Amanhã, no Coliseu mais visto do país, os dois gladiadores se enfrentarão usando as arm...
Marina Manda Lembranças
Se em vez de só olhar o lado externo estivéssemos monitorando o lado de dentro dos dois contendores, verificaríamos que as taxas de açúcar e a pressão sanguínea de ambos estão altas, elevadas pelo cortisol e pela epinefrina ( para os íntimos, adrenalina). E que, como nos homens em guerra, a testosterona impulsiona a agressividade.
O que aconteceria se os dois times de assessores soltassem no ar spray de oxitocina?
Busco respostas no livro "O que é sexo?", de Lynn Margulis e Dorion Sagan- respectivamente biólogo e escritor científico- e na entrevista da cientista Kestin Uvnas, autoridade mundial no "hormônio do amor".
A oxitocina sai do hipotálamo e parece ir direto para o coração, tornando-o todo amor. Tanto nos humanos, quanto nos animais. E até mais neles do que em nós, porque foram constatados verdadeiros surtos afetivos em macacos, que a ânsia de retribuição torna até perigosos. Com o spray no ar, os nossos gladiadores poderiam sorrir amigavelmente um para o outro, e trocar o tenso "Candidata"/"Candidato", por querido/querida, ou até o mais suave " meu bem". E, em vez de sair pela tangente, cada um responderia clara e delicadamente à pergunta do outro,
Mas a oxitocina tem muito mais a oferecer. Reduz o sangramento no parto, o que não diria respeito a essa situação, e induz a lactação, o que poria em risco a roupa da candidata. Tranquiliza, torna amáveis e acolhedores, o que transformaria em conversa fraterna o que havia sido programado para ser um enfrentamento. Desenvolve o apego, o que tornaria difícil a separação dos dois ao fim do debate. E aumenta a generosidade, o que levaria cada um dos candidatos a evitar perguntas ou colocações embaraçosas, para não constranger o outro.
Kerstin Uvnas atribui à oxitocina a sensação de "ver a luz ", ou a segurança e o calor interno do êxtase religioso, sintomas que, entretanto, costumam ser mais comuns entre os eleitores - mesmo sem spray - do que nos candidatos.
Não sendo suficiente o spray de oxitocina, - que só apresenta resultados consistentes em altas dosagens- a feniletilamina, ou FEA, seria ótima alternativa. Neurotransmissor apelidado "droga da paixão", quando injetado em camundongos, macacos e outros mamíferos leva-os a gemer de prazer. É ele que tem suas taxas elevadas nos amantes apaixonados, e é ainda ele que acelera o fluxo de informações entre os neurônios.
A FEA é lâmina de dois fios. Por um lado, ao estimular a paixão, nos lança no perigo da alta voltagem. Pelo outro, é ela que nos induz à prudência, nos faz desejar a estabilidade, nos torna fiéis.
Amanhã, os dois entram na arena. Sem intermediação de oxitocina ou feniletilamina. É o último combate, e podemos crer que será o mais duro. Para eles que o disputam, e para nós que sofreremos as consequências, seja qual for o resultado.