Marina Manda Lembranças O ermitão São Securide, vivendo em completa solidão na costa bérbere, fez das árvores suas amigas, pois mais qu...
Marina Manda Lembranças
Aconteceu, porém, que uma das árvores sentisse algo como uma grande ave pousar-se um dia em seus ganhos, e ouvisse uma voz que não a do santo. A voz obscura de quem já fora serpente a ele se dirigia. E à medida que a voz falava, crescia na árvore o desejo de alongar-se, agarrar os pássaros que voavam entre folhas e ninhos, e despedaçá-los. Então o tentador povoou o alto da árvore com seus pássaros de orgulho, pavões em bando, que a árvore estraçalhou até eliminar qualquer vestígio da sua presença.
Pacificada, voltou em seguida para junto da sua floresta. Mas os bérberes da costa contam que com a chegada da primavera todas as árvores se cobriram de folhas novas, menos aquela, que em lugar de folhas desabrochou plumas de estranhas cores. Foi assim que o santo soube do pecado cometido.
Resumi a bela história de Chesterton, escritor inglês do século XIX, porque bateu-me um desejo de falar de asas. E conto outra, essa extraída de The prehistory of aviation, Chicago, 1928, e citada em um ensaio de Bachelard.
O abade Damião, prelado e pesquisador italiano residente na corte da Escócia, sonhava voar. Afinal, em 1507, após longos estudos e seguindo o exemplo de Ícaro, fabricou para si um par de asas emplumadas, e foi lançar-se do alto de uma torre. Não voou nem alguns míseros metros. Despencou a prumo, quebrando as duas pernas.
Mais tarde, atribuiu sua queda à qualidade das penas. Havia feito recurso a numerosas penas de galo (talvez por serem mais vistosas e mais fáceis de obter) e elas haviam manifestado sua "afinidade natural" pelo galinheiro e o chão. Não fora suficiente, para impedir o apelo galináceo, a presença nas asas de outras penas verdadeiramente "aéreas" que, estando sós, teriam assegurado o pleno vôo do abade céu acima.
Asas e pássaros talvez tenham estranhos poderes, pelo menos , simbólicos. Em Les Soirées de Saint-Pétersbuourg, Joseph de Maistre nos diz "que os sacerdotes egípcios... durante o tempo de suas purificações religiosas só comiam carnes de voláteis, porque os pássaros são os mais leves de todos os animais."
E um naturalista árabe, citado na Biblioteca Aeronáutica Italiana, por Boffito, diz que o pássaro é um animal "tornado mais leve":
"Deus tornou mais leve o peso do seu corpo, eliminando dele várias partes... tais como os dentes, as orelhas, o ventrículo, a bexiga, as vértebras dorsais."
Ao tempo do naturalista árabe, ainda não havia conhecimento dos dinossauros voadores, cheios de dentes, orelhas, ventrículos, garras, escamas e vértebras dorsais. Feitos, eles também, por Deus, talvez em princípio de carreira.
E porque estamos falando Dele, uma pergunta: de que penas são feitas as asas dos anjos?
Mais tarde, atribuiu sua queda à qualidade das penas. Havia feito recurso a numerosas penas de galo (talvez por serem mais vistosas e mais fáceis de obter) e elas haviam manifestado sua "afinidade natural" pelo galinheiro e o chão. Não fora suficiente, para impedir o apelo galináceo, a presença nas asas de outras penas verdadeiramente "aéreas" que, estando sós, teriam assegurado o pleno vôo do abade céu acima.
Asas e pássaros talvez tenham estranhos poderes, pelo menos , simbólicos. Em Les Soirées de Saint-Pétersbuourg, Joseph de Maistre nos diz "que os sacerdotes egípcios... durante o tempo de suas purificações religiosas só comiam carnes de voláteis, porque os pássaros são os mais leves de todos os animais."
E um naturalista árabe, citado na Biblioteca Aeronáutica Italiana, por Boffito, diz que o pássaro é um animal "tornado mais leve":
"Deus tornou mais leve o peso do seu corpo, eliminando dele várias partes... tais como os dentes, as orelhas, o ventrículo, a bexiga, as vértebras dorsais."
Ao tempo do naturalista árabe, ainda não havia conhecimento dos dinossauros voadores, cheios de dentes, orelhas, ventrículos, garras, escamas e vértebras dorsais. Feitos, eles também, por Deus, talvez em princípio de carreira.
E porque estamos falando Dele, uma pergunta: de que penas são feitas as asas dos anjos?