Marina Manda Lembranças Q ue bonito está sendo ver este despertar das mulheres! Durante muitos anos olhei em volta e nada, ou quase...
Marina Manda Lembranças
Uma ou outra ação pontual, sim, aconteceu. Mais ligada à proteção física, porém, do que à ampliação dos direitos. No mais, silêncio.
E de repente - de repente, não, mais lenta e progressivamente do que parece - mãos femininas começaram a emergir daquele mato, a abrir caminho, a desfolhar, arrancar galhos, e o burburinho das vozes se fez ouvir como um vento.
Agora elas estão aí, na internet, nas mídias, ocupando lugares que certamente lhes serão tomados e que elas voltarão a ocupar adiante, ou não, mas cada vez retendo um pouco mais, tenazmente, pois um avanço histórico desses só se faz milímetro a milímetro e ao longo de séculos.
Usam uma linguagem diferente essas novas mulheres, outros argumentos, e isso é ótimo, porque no fim do processo que antecedeu Beijing nós mesmas não aguentávamos mais a nossa linguagem. Palavras se gastam quando são muito usadas, perdem o frescor e, com o frescor que inicialmente as enchia de entusiasmo, perdem a veracidade. As velhas palavras foram sepultadas durante o sono, e as vozes que agora se multiplicam estão inventando novas.
Não só as palavras, tudo parece novo para elas, como se pisassem em terra virgem. De alguma forma nos dizem que nem sempre é preciso conhecer o passado para reinventar o presente. E que neste momento o presente está pedindo para ser reinventado. A vida, ou a história é como novela, depois de um tempo de muita ação dá uma embarrigada, se arrasta, nada de novo acontece ou parece necessário, tudo é uma repetição do que já conhecemos ou não é nem isso. E quando já desesperamos de ver algo acontecer, ouve-se um burburinho de vozes, como um vento, e o redemoinho volta a nos envolver.
Tudo é mais rápido agora que os meios são outros. As mensagem circulam mais velozes que a voz, porque uma voz precisa de quem a ouça e a repita, mas uma mensagem se abre contemporaneamente em milhões de telinhas. Nada é apenas plano, há no mínimo duas faces em tudo, on-line e off-line. E quanta economia ao substituir os manifestos de ontem pelas hashtag de hoje, exatas no que exprimem, diretas na mensagem, penetrantes.
Têm humor, essas jovens mulheres, e têm agilidade. Ao contrário do que tivemos que fazer no passado, não precisam reunir grandes grupos partidários para tomar qualquer decisão, não estão atreladas a pesadas máquinas políticas, nem estão presas a votos de "fidelidade". Grupos pequenos, vozes autônomas permitem maior dinamismo, é pensar e agir, sem pedir permissão a ninguém, deixando para o público consenso ou repúdio.
Muitos homens estão gostando delas e o declaram. Não é por acaso, para eles também o mundo empurrado pelas feministas do passado deu um passo à frente.
As que pareciam dormir despertaram, e são belas! Nem estavam dormindo, esperavam apenas que passasse o tempo até a chegada de uma hora que fosse sua.