Marina Manda Lembranças Q uando uma nova novela começa, um pacto é silenciosamente assinado entre os roteiristas e o público: a suspen...
Marina Manda Lembranças
Nas novelas, uma produção muito bem azeitada se esmera para aproximar do real a narrativa que dele se afasta. A cenografia hiper realista com ruas inteiras, mansões ou até fragmentos de favela reconstruídos ilude o olhar, levando-o a reconhecer como verdadeira a maquilagem bem feita. E os figurinos, os mínimos detalhes longamente pesquisados, tudo o que for adereço para a história, aponta para o realismo. Isso, sem falar dos atores, escolhidos para se encaixar no papel, sempre excelentes, que se empenham para injetar sentimentos humanos em personagens altamente improváveis ou caricatas — sobretudo nos núcleos de humor, a caricatura impera.
A fidelidade não esmorece sequer quando o enredo é alardeado fora do contexto cenográfico. Esta semana, por exemplo, as bancas traziam novidades inesperadas estampadas nas capas. "Orlando é assassinado no dia do casamento", dizia uma delas. Outra noticiava o enterro de Atena e o anterior preparativo da sua falsa morte. Homero era mais um futuro morto. A notícia mais inacreditável, porém, é o próximo aparecimento da mãe de Dante, que não regressa do reino dos mortos como poderia parecer, mas nunca morreu. E não só não morreu, como casou-se com Zé Maria, com quem tem um filho.
A morte de Orlando era previsível, — canalhas de novela costumam ter fim trágico. A morte de Homero também era previsível — acumulou pecados demais para lavar, é muito dividido entre crime e amor, não tem como recuperar o amor da mãe, e Tóia será de Juliano. Atena nasceu para ser mantida na maracutaia. Mas esse aparecimento da mãe de Dante, só com muita suspensão de descrença. Afinal, a dramática morte dessa moça é o eixo narrativo sobre o qual se articula toda a família do núcleo rico. Os milionários aceitaram a morte da filha, sem ter o corpo? ou com outro corpo irreconhecível, mas sem exame de DNA? E a morta-viva casou-se logo com Zé Maria, um dos líderes da Facção, perseguido pelo filho dela, e chefe de Orlando que vai — aliás ia — casar-se com a irmã dela. Um prato de espaguete seria menos enrolado.
E não basta. Leio no jornal que houve ou haverá uma reunião fechadíssima com José de Abreu, Tony Ramos e Susana Vieira, porque a personagem de um deles é o Pai.
Minha imaginação delirante havia me levado a crer que a solução mais novelesca seria fazer do grande patriarca impoluto o chefão mafioso. Mas confesso que mesmo em delírio não me ocorreria pensar em Adis Abeba para esse posto. Aquela senhora ruidosa e de bom coração, que rala há tantos anos — desde que abandonou o meretrício — mantendo no morro onde vive uma boate nem sempre bem sucedida, que no passado perdeu o amante para a bem mais modesta Djanira e que em vão o convida a reatar , seria a crudelíssima e secreta super chefe da super organização criminosa?! Aquela quase pronta, que já foi vista contando caraminguás, comandaria tudo sem usar um tostão dos tantíssimos que ganha, sem ter carrão, helicóptero, iate e piscinão? Sem férias em Ibiza? Nem político do Petrolão.