Marina Manda Lembranças E l Chapo é um homem de feitos espetaculares. Foi espetacular na última fuga, e igualmente espetacular na que...

Marina Manda Lembranças
O chefe do cartel se Sinaloa foi claro na entrevista dada a Sean Penn, declarou-se o "maior traficante de drogas do mundo". Não apenas um grande, mas o maior. Talvez seja, não entendo desse mercado. Mas o que interessa é como ele se via, conquistador vitorioso, merecedor dos aplausos do mundo.
Por isso concedeu entrevista ao ator, contrariando todas as normas de segurança - o resultado foi o que se viu. Já não lhe bastava qualquer repórter, queria ir um passo adiante. Sean não só era garantia de eco internacional, como lhe abriria as portas de Hollywood. El Chapo sonhava com um filme biográfico feito por grandes nomes. Seria sua coroação.
Talvez tenha imaginado Kate del Castillo interpretando seu par romântico no filme. Certamente, a desejava para si próprio. Teria sido perfeita. A atriz que todo o Mexico admirava, já treinada pelo protagonismo na série " A rainha do tráfico" viveria plenamente seu papel na realidade. E ele, o grande homem, teria a mulher que todos desejavam.
Não foi assim com Ted Kennedy e Marilyn Monroe? Não foi assim com César e Cleópatra? Um grande homem pode até fazer filho na empregada, como Schwarzenegger, mas casa-se com uma Shriver, da família Kennedy.
Não deu certo. Tão impregnado estava El Chapo nos seus sonhos de grandeza, que nem arrefeceu depois que a visita de Sean e Kate foi seguida de uma investida das forças de segurança mexicana. Encurralado por um helicóptero, fugiu usando como escudo a filha da sua empregada. Mas, ainda sem desconfiar que suas mensagens criptografadas estavam sendo decifradas pelos agentes, manteve os contatos com Kate, e mandou preparar um apartamento luxuoso para recebê-la. Antes dela chegou a polícia. De nada adiantou o túnel de fuga que garantia o apartamento, depois de seis horas de caçada, o traficante caiu.
Conheceria El Chapo a história do bandido Giuliano?
Salvatore Giuliano foi o último grande bandido siciliano. Não mafioso, ligado à grande organização, mas bandido nos antigos moldes, chefe absoluto de uma quadrilha de no máximo 20 pessoas. Foi o bandido da minha infância.
Começou sua carreira em 1943, ao matar um policial que tentava prendê-lo por estar fazendo mercado negro de alimentos. Matou mais gente depois. Gostava de grandes gestos e de proteger os humildes, criou uma imagem de Robin Hood. No assalto à mansão da Duquesa de Pratameno encontrou-a na sala, beijou-lhe a mão e pediu que lhe entregasse todas as jóias, quando ela se negou, disse que então sequestraria seus filhos. A dama entregou-lhe as jóias. O brilhante que ela trazia no dedo ele transferiu para o seu, e antes de sair tomou emprestado da estante um livro de John Steimbeck, que devolveu mais tarde com um bilhete gentil.
Não sei de nenhuma Kate na biografia de Giuliano, mas sua vida dele rendeu um filme de Francesco Rosi, um livro de Mario Puzo, outro filme de Michael Cimino, e até uma ópera do compositor Lorenzo Ferrero. El Chapo morreria de inveja.