Marina Manda Lembranças D ezessete ministras e ex-ministras da França, entre as quais a poderosa Christine Lagarde, assinaram no últi...
Marina Manda Lembranças
A notícia chega em boa hora, quando o Brasil denuncia o machismo na composição do novo ministério, para o qual nenhuma mulher foi convidada - segundo escalão não é ministério.
"Nem todas as mulheres se sentem ofendidas com cantadas."— disse Yvette Roudy, ex-ministra para os Direitos das Mulheres e uma das que assinaram a petição — "Mas algumas consideram isso extremamente ofensivo. E agora decidiram falar". A frase-chave da petição é exatamente :"Não calaremos mais".
E não se trata apenas de cantadas, que já seriam intoleráveis em um ambiente que pretende a seriedade. Sandrine Rousseau, porta-voz do Partido Verde, acusou Denis Baupin, deputado do mesmo partido e vice-presidente da Assembléia Nacional, de apertar-lhe os seios e tentar beijá-la à força em um corredor. Baupin nega, mas demitiu-se.
Seria importante perguntar às minguadas mulheres da nossa representação política se já sofreram cantadas, se algum colega alongou a mão por baixo de uma mesa, se já lhe elogiou as formas ou mergulhou o olhar no seu decote. E seria mais importante ainda perguntar o que elas consideram mais ofensivo, se as cantadas, ou o fato de serem tão poucas e sempre menos consideradas que seus colegas homens.
O machismo se revela nos detalhes, mas está ancorado no todo. O ministério de François Hollande tem 9 homens e 7 mulheres. Na hora de compor o seu ministério, Michel Temer não estava pensando em igualdade, estava contando os votos que os nomes escolhidos lhe garantiriam no Congresso, votos de que necessitará para aprovar as mudanças prometidas. E os votos que as mulheres parlamentares arrastam consigo são insuficientes.
Não por incompetência, certamente. Se há mulheres no Supremo, se há mulheres chefiando empresas e há mulheres de ponta na ciência e na indústria, por que não as haveria em política? Sou tentada a dizer que por falta de espaço, por preconceito do eleitorado e dentro dos próprios partidos ( Dilma não ganhou por competência, conforme se viu, ganhou apesar de ser mulher, somente por ser a representação de Lula). Mas a resposta não me cabe, cabe a elas.
Progressiva e firme acontece, porém, uma mudança reveladora no universo político. Se a presença feminina não aumenta no congresso, domina, disparada, a mídia. Vozes femininas entrevistam os políticos e fazem a cobertura em Brasília. Mulheres comandam programas políticos, e mulheres estão na primeira linha de comentaristas. Nas últimas semanas, quando o Brasil esteve parado diante da televisão, muito mais do que os homens brilharam as mulheres, não só na cobertura dos fatos, mas nas análises e na projeção de possíveis desdobramentos.
Se as mulheres entendem tanto de política, parece pouco provável que não saibam fazê-la.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, Trump prossegue com sua campanha à frente do partido Republicano. Vamos ver se as mulheres americanas, que já denunciaram seu escancarado machismo, e já sabem de suas investidas indesejadas, de suas piadinhas grosseiras e de seus comentários sobre a forma física feminina, o rejeitam nas urnas.