Entrevista para o Blog Livros para todas as idades Agradecemos a Neide Graça e a Mercedes Fernandes do Blog Livros para todas as idades...
Entrevista para o Blog Livros para todas as idades
Agradecemos a Neide Graça e a Mercedes Fernandes do Blog Livros para todas as idades que recentemente compartilharam conosco uma entrevista (de Agosto/2016) que elas fizeram com a Marina Colasanti. Confiram:
1. Pesquisando sobre sua trajetória vimos que começou sua carreira nas artes plásticas, seguindo com o jornalismo. Sabendo que desde pequena já escrevia textos e poesias em cadernos e diários e que sempre foi apaixonada pelos livros e pela leitura, gostaríamos de saber como foi o seu despertar para a literatura quando ainda trabalhava como redatora e como se deu o processo de publicação da primeira obra?
MC - Além de redatora, muito rapidamente me tornei cronista. A princípio substituía o cronista titular, Carlinhos de Oliveira, em suas férias. Em seguida tive meu próprio espaço. Escrever crônicas e ter o retorno do público foi importante para me dar mais segurança. E em breve, estava escrevendo o meu primeiro livro.2. Marina, você é reconhecida como uma das primeiras autoras ao se dedicar para o segmento infantojuvenil, a escrever histórias de “contos de fadas”. Gostaríamos de saber como foi escrever este gênero de narrativa clássica? Quais foram seus estímulos ou influências?
MC - Não creio ter sido uma das primeiras ou dos primeiros, mas seguramente sou a única a ter avançado nas narrativas maravilhosas. Na modernidade, os autores costumam se acercar dos contos de fada ou através da paráfrase ou através da paródia. Nenhum dos dois me interessou.Faço contos maravilhosos absolutamente autorais e dentro do gênero (ou seja: narrativas fora do tempo cronológico e fora do espaço da realidade; de conteúdo denso permitindo múltiplos níveis de leitura; destinados a qualquer idade). Recentemente reuni todos em um único volume, o livro "Mais de 100 histórias maravilhosas". São 117, sendo os últimos dezessete contos inéditos até então.
3. Em suas viagens e variadas participações em eventos literários, destacamos sua preocupação com a formação do leitor. Sabemos das dificuldades que o país enfrenta em termos de educação, e que formar leitores não é tarefa fácil. De que forma, você entende o processo de formação leitora?
MC - A resposta seria longa demais para o nosso espaço. Vou tentar simplificar. O que interessa não é como eu entendo o processo de formação leitora. Essa não é uma questão individual, embora alguns autores já tenham elaborado seu decálogo para uma boa leitura. No mundo inteiro há gente debruçada sobre esse tema, e sabemos todos o que é necessário fazer. Muitas iniciativas, muitos projetos estão em curso há anos no Brasil, quase sempre bem sucedidos. Mas o que falta é a vontade política, a convicção de que a leitura é uma poderosa alavanca de desenvolvimento. Só tendo certeza disso um governo se empenha de fato, e faz o investimento econômico necessário.4. Atualmente percebe-se um grande movimento por parte dos professores e educadores em geral de trabalhar com textos literários nas aulas de Língua Portuguesa, dedicando um tempo escolar maior em contação de histórias, rodas de leitura, leitura em voz alta e outras estratégias, como um modo de os alunos terem maior contato com a literatura, para que, consequentemente, desenvolvam o hábito de ler. Isso, contudo, não tem correspondido a um avanço expressivo da compreensão leitora. O que está faltado para nos tornarmos uma sociedade leitora, preconizada no Manifesto por um Brasil Literário?
MC - Para ter certeza de que não houve correspondência entre o esforço empenhado e o avanço da compreensão leitora esperarei as últimas avaliações, que serão proximamente apresentadas na Biblioteca Nacional. Mas é importante lembrar que a leitura não faz — porque nunca fez — parte da cultura brasileira. O nosso não é um esforço de manutenção, mas de implantação, e isso faz toda a diferença. E mais, para a penetração da leitura literária são necessários professores ou agentes transmissores que sejam, eles mesmos, leitores apaixonados de literatura.5- Para finalizar gostaríamos de saber como você recebeu a sua indicação como autora para o Prêmio Hans Christian Andersen Awards 2016?
MC - Já havia sido indicada no passado mas, obviamente, me senti honrada. Sei, porém, muito claramente que esses grandes prêmios internacionais dependem de múltiplos fatores além do valor da produção literária do candidato. Ser indicada já é, de alguma forma, um premio.
A entrevista também foi editada em vídeo:
Foto da postagem: Teresa Cipriano