Marina Manda Lembranças Q uando a serpente deslizou pelos galhos daquela arvrona paradisíaca sibilando no ouvido de Eva palavras publici...
Marina Manda Lembranças
Tivemos vários acontecimentos edificantes.
Ao sair de uma festa, uma funkeira foi atacada a tiros por um desconhecido de casaco branco. Escapou escondendo-se atrás de um carro. Acusa o ex marido de ter encomendado o atentado, para não ter que pagar pensão alimentícia para a filha de ambos. Ela, o ex marido e o atual são uma trinca de muitas passagens pela polícia, o que, entretanto, não atenua a tentativa de matá-la.
Grávida de 3 meses, a empresária Nathalie Rios Motta Salles, foi encontrada em Vassouras, carbonizada dentro de uma pilha de pneus queimados. O pai do bebê era um antigo namorado e atual caso, Thiago Medeiros, dentista, atualmente noivo de uma médica. Não queria o filho, pediu que Nathalie abortasse, e chegou a dopá-la numa consulta que ela fez em seu consultório. Mas ela queria o bebê que se dispunha a criar sozinha. Foi sua condenação. Quando a encontraram, todos os seus dentes haviam sido arrancados para impedir o reconhecimento. O assassino esqueceu-se de tirar o brinco que a família conhecia.
De olho roxo, Élida Souza Matos registrou queixa numa delegacia de Brasília, acusando de agressão o marido, ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Ademar Gonzaga. Registrou também agressões verbais. A briga do casal foi ouvida pelos vizinhos. Logo em seguida, o advogado do ministro, um dos criminalistas mais requisitados de Brasília - lugar onde, como sabemos, a busca por esse tipo de ajuda é grande - disse em nota que o casal lamentava e pedia desculpas ( etc..etc...) e que tudo não passou de "um desentendimento, com exasperação de ambos os lados"e que ela havia feito a queixa "no calor do desentendimento" mas já estava registrando uma retratação.
Não sabemos o que pensariam desses fatos os operários de canteiros de obras do estado, entrevistados pelo Senconci-Rio para uma pesquisa sobre violência contra a mulher. Mas podemos fazer ilações.
Deles, 40% acharam justificável agredir fisicamente uma mulher quando ela trai. Não parece ter sido o caso de nenhuma das três mulheres agredidas esta semana. Pelo contrário, quem traía a noiva médica era o dentista; Nathalie não traia ninguém. Na pesquisa, obviamente, não se perguntou o que deveria fazer a mulher com o homem que a trai.
Dos operários entrevistados, 22% disseram que está certo bater em mulher quando ela não se veste adequadamente. Não sabemos exatamente que conceito pauta a adequação da indumentária feminina, mas não é difícil deduzir que se trata mais de modéstia e pundonor - do ponto de vista viril- do que de moda. O traje não parece ter motivado as três agressões a que nos referimos.
E finalmente, 15% declararam que vale uma surra na mulher o descuido com os filhos. A funkeira Samantha queria pensão para a filha, a farmacêutica Nathalie queria vida para o seu bebê. Nenhuma das duas se enquadra no merecimento de castigo. Quanto a Élida, profissão dona de casa, duvido que não cuide dos filhos se é que os tem.
Os operários dos canteiros de obras do estado não conhecem nenhum dos três homens agressores. Mas os três poderiam constar das suas amizades, já que 60% dos entrevistados responderam conhecer um homem que foi violento com a parceira.