Marina Manda Lembranças Q uero falar do tema "assedio sexual" mas hesito, com medo de cair em repetição. Poderia dizer que pr...
Marina Manda Lembranças
Mas é uma obrigação, não apenas minha, como de qualquer mulher, manifestar-se sobre um tema tão longamente silenciado. E silenciado porque aceito.
Então, deixando claro meu partido, faço apenas algumas considerações sobre o que foi publicado na mídia.
- Mulher nenhuma fica "traumatizada durante anos porque um homem tocou na sua coxa" como disse Catherine Millet. Ela, sobretudo, não ficaria. Mas um homem se masturbar contra um ombro feminino na condução é, não apenas traumatizante, como crime sujeito à lei.
- Os homens que, segundo o manifesto francês, "foram penalizados na profissão ou obrigados a se demitir" não haviam apenas "tocado um joelho, tentado um beijo, falado de coisas íntimas no trabalho ou enviado mensagens de conotação sexual a uma mulher que não sentia atração recíproca". Foram muito além, porque usaram seu poder - como astros, como produtores, como fotógrafos, como políticos, ou apenas como chefes - para obter favores sexuais contra a vontade dos objetos escolhidos.
- Ao contrário do que afirmam as francesas, o movimento #MeToo não leva ninguém a ver o sexo feminino "como uma criança que pede proteção". As mulheres que foram de preto à cerimônia do Globo de Ouro não pediram nada. Exigiram um novo tempo. E ergueram contra o assedio o escudo da irmandade.
- O assedio sexual não ataca somente o sexo feminino, conforme atestam as recentes, e numerosas, acusas de modelos masculinos contra os fotógrafos Bruce Weber e Mario Testino. E os jovens acusadores não pretendem ser vistos como crianças.
- Difícil acreditar que uma mulher adulta não saiba a diferença entre paquera e assedio. Paquera, como todas já experimentaram, é a aproximação para o sexo consentido e desejado, parte inseparável do jogo amoroso. Já o assedio, que muitas sofreram, é a imposição de atividades sexuais, através de força física ou social. A distinção não é complicada.
- As francesas defendem a "liberdade dos homens em importunar'. Mas o sentido de "importunar" é claro mesmo quando usado em outra língua. Diz o dicionário: 1- molestar com pedidos insistente e/ou enfadonhos. 2- Enfadar pela insistência; apoquentar 3- causar embaraço ou estorvo a; perturbar, interromper.
Alguma razão pela qual os homens devam sentir-se livres para importunar, molestar, causar embaraço ou estorvo? Alguma razão para que o desejemos?
- As francesas signatárias do manifesto parecem ter esquecido o caso Dominique Strauss-Khan. Ou acharam que ele estava exercendo sua liberdade ao "importunar" a camareira no hotel de NY?
- Não "há muito exagero nessa discussão sobre assedio" como diz meu caro Pereio. Pelo contrário, o assunto assedio é muito maior que a discussão em curso. No nosso país sobretudo, onde tantas mulheres são mortas por não aceitarem o assedio de antigos maridos ou amantes, o tema se agiganta.