Marina Manda Lembranças E screvo de Bologna. Mais precisamente, escrevo da Feira do Livro Infantil de Bologna, quase entre livros, como ...
Marina Manda Lembranças
Os locais nem sabem disso, porque esta é uma Feira fechada, destinada apenas aos profissionais, mas nestes dias Bologna se torna o centro do mundo da editoria infantil. Impossível trabalhar com livros para a infância e a juventude sem vir aqui.
E os da literatura para adultos não sabem disso, porque sempre fecharam um olho à realidade, mas sem esta Feira não haveria a Feira de Frankfurt, pois é aqui onde se cuida de fazer leitores para o futuro.
Este ano, o país convidado é a China. E com justeza. O ano passado, quando estive na Feira de Shangai e, em seguida, visitando uma grande editora em Beijing, me dei conta do poder editorial do país. Portanto, muitos discursos em chinês, belíssimas ilustrações chinesas, e muitos olhos amendoados circulando pelos estandes e corredores.
Aliás, os olhos amendoados estão em toda parte, e não só chineses, e não só na Feira. Ontem fui, com uma amiga de infância que mora aqui em Bologna, a um concerto, a Pequena Missa Solene, de Rossini, e me surpreendi ao ver que no coro de 21 vozes, 12, ou seja a maioria, eram jovens orientais. Ao fim do concerto, mais jovens de diversos países do Oriente vieram encontrar os cantores. Soube, pela minha amiga, que a mesma coisa acontece na Escola de Belas Artes. Como no passado não tão remoto, o Oriente vai buscar aprendizado na fonte.
Voltemos à Feira. Muita gente jovem, muitíssimas mulheres. Os ilustradores são quase todos frelance, então vêm para cá em busca de contatos com editores e com autores. Há paredes inteiras onde criou-se o costume de prender referencias de ilustradores. E filas enormes se formam diante dos estandes que estão interessados de examinar os books ou os livros já editados dos ilustradores.
Desde o ano passado, isso também acontece nos estande da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil). Roger Mello, nosso prêmio Andersen de Ilustração, generosamente faz a avaliação e o aconselhamento de jovens ilustradores. Hoje havia uma fila já formada quando deixei a Feira.
Outra novidade no estande aconteceu este ano. Foram organizadas palestras (a minha está disponível aqui no site, e eu mesma me encarreguei da tradução) e apresentações de livros. E sempre houve um belo público presente, embora majoritariamente brasileiros. Novidade testada e aprovada, haverá maior esforço de atração no ano próximo.
Este ano, resultou também muito apropriada a proximidades dos estandes dos países vizinhos. Nós e nossos irmãos de língua espanhola estamos no mesmo pavilhão, praticamente lado a lado, formando um conjunto, assim como o formamos no mundo editorial intercambiando autores e ilustradores. Um conjunto que tem mais em comum do que apenas o mesmo continente, e que, por essa unidade se torna mais importante. Que os outros países visualizem essa grandeza só traz água para o nosso moinho.
Início de primavera em Bologna, depois de um inverno especialmente rigoroso. No meio de qualquer mancha de grama despontam margaridinhas e começam a brilhar as primeiras violetas selvagens. Há ruas inteiras na cidade plantadas com frutíferas, e são tão delicadas as flores sobre os ramos escuros que cheguei a pensar pudessem ser artificiais. Na Feira, como margaridas ou violetas os jovens autores e ilustradores parecem brotar do chão onde se sentam, nos pátios abertos ao sol, para comer sanduíches ou sorvetes. E como as árvores frutíferas preparam-se para dar frutos.