Marina Manda Lembranças O anel de noivado de Meghan Markle, que agora será usado junto à aliança, tem três diamantes. Uma pedra centra...
Marina Manda Lembranças
O solitário de casamento da minha mãe viajava, durante nossos deslocamentos na Segunda Guerra Mundial, costurado na bainha da saia. Desconfio que tenha financiado a passagem de navio do meu pai rumo ao Rio, pouco depois da declaração de paz.
O brilhantinho do anel de noivado da minha avó era bem mais modesto. Não creio que minhas bisavós tenham tido diamantes. Assim como não os terão nossas descendentes.
Os diamantes, como certas estrelas, têm data marcada para desaparecer. Foi anunciado que daqui a cinquenta anos não haverá mais diamantes nas minas. Pode até ser uma manobra de mercado, já que só as minas diamantíferas da Rússia deveriam render muito mais que isso.
Fato é que os substitutos dos diamantes naturais começam a aparecer nas novas coleções dos joalheiros. E têm nome, “diamantes sintéticos”.
Como os salmões ou as trutas, são diamantes “plantados” imitando o processo de sua origem natural. Dou a receita, caso alguém queira fazer o seu: pega-se um diamante minúsculo, injetam-se nele átomos de carbono, submete-se o conjunto a altas pressões e altas temperaturas, e espera-se. Em algumas semanas ele começará a crescer, exatamente como aconteceu nas profundezas da terra quando o planeta teve origem.
As “fazendas” de cultivo dos novos diamantes são grandes caixas capazes de aguentar pressão e temperatura semelhantes àqueles que, no Big Bang, produziram todos os diamantes. O processo é falso, mas o produto tem aparência idêntica ao natural.
O mesmo aconteceu com as pérolas. A voracidade do mercado exigindo bem mais do que se podia encontrar na natureza levou o japonês Mikimoto a pesquisar e descobrir uma maneira de produzir pérolas nas próprias ostras. E escrevendo isso, me dou conta da crueldade do processo, introdução cirúrgica de um núcleo na ostra, acarretando a morte de muitíssimas delas.
Há anos, herdei cinco pérolas naturais usadas por um parente em ocasiões de gala, para prender o peitilho engomado da camisa. Fiz com elas um anel e os brincos. Valiam muito mais que os dois fios de pérolas cultivadas que herdei da minha avó, mas ninguém nunca percebeu qualquer diferença. A diferença estava oculta, no núcleo.
Quando fui ao Havaí comprei, de presente para minha filha, uma lata semelhante a uma lata de atum. Continha uma ostra pequena, que por sua vez continha uma mínima pérola. Minha filha, que era criança, achou o presente encantador. Evitei dizer a ela que a pérola poderia ter sido posta ali, como se põem grãos de pimenta na conserva de pepinos. Ou que aquela ostra poderia ser apenas o cadáver enlatado de uma das tantas que não sobrevivem.
Agora, chegou a vez dos diamantes cultivados. As netas de Meghan e Harry poderão ainda se enfeitar com diamantes naturais, há muitos disponíveis na família. Mas a governanta das crianças não precisará mais ficar só olhando. A vantagem da “plantação” é que, embora vendidos com certificado, os novos chegados custarão 40% menos que os naturais.
Isso, por enquanto. Se os cultivados seguirem o mesmo caminho das pérolas, em breve qualquer jogador de time de várzea poderá ostentar brincos de brilhantes iguais aos de Neymar.