Marinha Manda Lembranças A impopularidade do Charles, evidenciada na recente cerimônia de casamento de Harry e Meghan e sublinhada pela...
Marinha Manda Lembranças
Não é dele a culpa da sua vida não ter dado certo. Para muitos a vida não corre como o esperado, mas nem por isso levam apupos.
Como uma donzela de antigamente, foi obrigado pela mãe a casar com alguém que ele não amava e com quem não tinha a menor afinidade. Pior, ele amava outra que já era sua amante.
O erro não foi dele, foi de Elizabeth. Erro duplo, pois não só escolheu quem o filho não amava, como escolheu uma moça bonita que não tinha ideia do papel para o qual havia sido selecionada. Entretanto, junto com a coroa, Elizabeth conservou a popularidade, deixando a de Charles ir ladeira abaixo.
Educado para ser rei, era justo ele achar que como todos os que o antecederam e tantos dos seus contemporâneos tinha direito a conservar a amante. A novidade é que não tinha.
Charles não é exatamente simpático, concordo. Mas simpatia só é indispensável para governantes democráticos que precisam se eleger. Para os reis, conforme testemunhamos na história, é perfeitamente dispensável, o poder passando de pai para filho sem necessidade de sorrisos, marqueteiros e afagos nas crianças.
Charles não é exatamente brilhante, concordo. Não se distinguiu em nenhuma das tantas atividades escolares ou protocolares semeadas ao longo da sua juventude. Não se distinguiu em nenhuma declaração ou situação na idade adulta. Não se distingue na velhice.
Mas distinguiu-se na paixão, brilhou no momento “tampax” que teria sido privado e tornou-se público, foi fiel e determinado no amor a Camila. E ela parece ter gostado do seu desempenho erótico, já que continua a seu lado.
Ou estas não são qualidades suficientes para dar brilho a um homem?
Desde pequeno, Charles ouviu repetir que seria rei da Inglaterra. Isso há de ter entrado na circulação sanguínea dele, há de ter-se infiltrado debaixo da pele. Ninguém lhe disse: “se você for bonzinho e se comportar à mesa, será rei da Inglaterra”, não havia condicionais para a promessa. Seria rei, porque seria.
E não foi. Ano após ano, jovem homem, homem adulto, jovem velho, velho, a promoção não veio. Ele esperando, e os dentes da mãe cravados no osso que não quer largar. Rejeição de mãe dói mais que qualquer outra.
Foi só o episódio de Diana que lhe barrou os passos para o trono? Foi a morte da eterna princesa, trágica como um terceiro ato de Shakespeare? Mas Charles não teve participação nenhuma nessa morte, ela estava com o amante, em atitude quase afrontosa para a família real. Nada disso importa. O afeto popular por Diana transformou-se em rancor contra Charles.
Destronado pela mãe, o pobre príncipe está sendo agora destronado pelos filhos. William primeiro, tão sensato, tão bem comportado, tão bem casado. E agora Harry, fazendo pela mão de Meghan a ponte entre tradição e modernidade.
Ouço Charles perguntar-se em silêncio qual foi sua função na vida, ou qual foi o grave erro que o impediu de exercer a função que lhe era destinada. Não foi o tamanho das orelhas, muitos meninos de orelhas grandes são amados por suas mães. Não foram as gafes, porque só começou a fazê-las mais tarde. Não foi seu interesse mais voltado para a natureza do que para a política. Foi a vida. Como em certos contos de fadas, a vida lhe foi madrasta. E nenhuma fada madrinha apareceu para salvá-lo.