Marina Manda Lembranças S ábado passado, Eduardo Bolsonaro postou no Twitter uma recomendação a professores do ensino médio, dizen...
Marina Manda Lembranças
A postagem não teria a menor importância não fosse o sobrenome do moço e o fato dele ser o deputado federal mais votado da história do país.
Nos primeiros seis dias do novo ano, quatro mulheres foram assassinadas por seus companheiros em São Paulo, e cinco no Rio. Não sabemos quantas foram mortas nos outros estados. Mas sabemos que no Brasil são assassinadas 5 mil mulheres por ano, 40% delas por seus companheiros ou namorados, o que nos coloca entre os países do mundo com maior taxa de feminicídios.
Sem saber sobre feminismo, o aluno – e por que aluno, somente no masculino?- não teria como entender o pleno significado da palavra “feminicídio”. Nem teria como entender o motivo da legislação específica sobre esse crime.
Sem saber sobre feminismo, os jovens teriam dificuldade para equilibrar o próprio conceito de democracia.
O feminismo é um fato histórico da maior relevância, de que todo jovem deve tomar conhecimento. É a mais importante revolução social dos dois últimos séculos, a única que atinge diretamente a população feminina do planeta, e atua sobre a postura da população masculina. Modificou o mercado de trabalho, a política, e até as forças armadas. Enriqueceu a pesquisa científica. Tapar os olhos dos jovens ao feminismo equivale a impedi-los de ver a modernidade.
Quanto a não saber “linguagens outras que não a língua portuguesa”, é um conceito empobrecedor, que colide com a legislação aprovada em fevereiro de 2017 incluindo a obrigatoriedade do ensino do inglês a partir do sexto ano do fundamental, e já incorporada pela Base Nacional Comum Curricular.
Ouso duvidar que o deputado Eduardo Bolsonaro não fale inglês, língua hoje indispensável para quem quer voar alto, nem que seja apenas nas redes sociais. Ou, como diz o documento de 2017, "permite aos estudantes usar essa língua para aprofundar a compreensão sobre o mundo em que vivem (..)”.
Não bastasse o texto, essa postagem contém um subtexto altamente inquietante. É ali, onde diz que “o vestibular dele será....”
A função da Escola não é preparar para o vestibular. Essa é a função dos cursinhos. A função da Escola é preparar para a vida, fazer cidadãos conscientes. A vida não se resume a um único exame, é um exame constante em que a cada minuto somos testados. E quanto mais conhecimentos tivermos adquirido, mais possibilidades teremos de acertar nas questões propostas.
Sugerir a professores que limitem o conhecimento de seus alunos é um crime de lesa educação. É reduzir a educação a seu patamar mais baixo e utilitário, em vez de dar-lhe o espaço civilizatório que é seu por direito em qualquer cultura. E transferir o dever formativo da escola para a família equivale, na maioria dos casos, a sobrecarregar a família com uma obrigação que séculos de descaso e desassistência a impedem de cumprir.
Passar no vestibular pode ser importante para os estudantes. Para o Brasil, mais importante é passar para a primeira fileira entre os países do mundo com excelência em Educação.