Marina Manda Lembranças D omingo comemorou-se o Dia da Educação. Ninguém foi às ruas em passeata a favor da pobrezinha, nem houve miss...
Marina Manda Lembranças
E eu, ignara, que durante tantos anos pensei fosse educação outra coisa, mais funda, mais ampla, capaz de realmente melhorar a sociedade.
Não sei de onde tirei, talvez do passado, que leitura, escrita e matemática – “fazer conta” me parece tão insuficiente !!- são apenas os primeiros passos do aprendizado, a serem ministrados no fundamental. E a busca de “um ofício que gere renda para a pessoa” deveria ser feita através de cursos técnicos.
Fui enganada por quem me educou. Família e escola, em sinistro conluio, adoçaram meu bico com poesia, gotejaram história no meu imaginário, me aproximaram da arte, puseram livros e música ao meu alcance. Sempre dizendo que tudo isso serviria para a minha educação. Sei agora que os primeiros rudimentos teriam sido suficientes, e um ofício.
Ainda na semana passada, fomos informados também de que “O Ministro da Educação @abrahamWeinT estuda descentralizar investimentos em faculdades de filosofia e sociologia (humanas). Alunos já matriculados não serão afetados. O objetivo é focar em áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária engenharia e medicina.”
Na Idade Média a Universidade de Bolonha, fundada em 1088 e uma das mais antigas do mundo, era famosa em toda a Europa por suas Escolas de Humanidades e de Direito Civil. Por ela passaram Dante e Petrarca, e ninguém duvida que o autor da Divina Comédia e o inventor do soneto tenham melhorado a sociedade, não só à sua volta. Aquela universidade continuou cumprindo sua função ao longo do tempo, e no século XIX acolheu mais dois poetas Giosuè Carducci e Giovanni Pascoli que, sem interesse nas carreiras de veterinário, engenheiro ou médico, marcaram fundamente a cultura italiana. Tivesse Bolonha descentralizado investimentos nas Humanas, nunca teria tido Umberto Eco como titular ou sequer professor de Semiótica.
Onde, suprimindo a Filosofia das universidades – e, por que não, do ensino médio?- se estudarão as questões morais e políticas, aquela Ética de que o presidente se declarava tão apaixonado durante a campanha? E como falar em família, outro tema caro ao presidente, se eliminarmos a Sociologia e o estudo das relações humanas? Onde os jovens aprenderiam a exercer o pensamento crítico? Ou o pensamento crítico é dispensável em quem cuida de animais, ergue viadutos ou trata da saúde alheia?
A Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia divulgou um comunicado comentando o estudo de descentralização do ministro da Educação: “As declarações do ministro e do presidente revelam ignorância sobre os estudos na área, sobre sua relevância, seus custos, seu público e ainda sobre a natureza da universidade, Esta ignorância, relevável no público em geral, é inadmissível em pessoas que ocupam por um tempo determinado funções públicas tão importantes para a formação escolar e universitária, para a pesquisa acadêmica em geral e para o futuro de nosso país.”
Façamos nossas estas palavras.