Marina Manda Lembranças N a exposição dos hiperrealistas do CCBB, uma escultura pequena de Giovani Caramello mostra um jovem, pouco ma...
Marina Manda Lembranças
No Japão, os velhos estão cometendo pequenos furtos, para serem presos. 30% dos roubos nos país são cometidos por pessoas acima de 65 anos e 70% deles são subtrações flagrantes, nas gôndolas dos supermercados ou em lojas. Esse tipo de ilícito, no Japão, é punido com um ano a dois de cadeia. Os velhos vivem tão sozinhos, tão isolados, que a prisão se torna para eles uma opção tentadora. Presos, terão companhia, ocupação, não precisarão providenciar a própria comida, serão cuidados.
E uma vez soltos, tornam a roubar para voltar para “casa”.
Isso faz do Japão o recordista mundial de população carcerária da terceira idade. Proporção que aumenta no caso das mulheres: de cada cinco presas uma tem mais de 65 anos.
Os velhos solitários do Brasil – e são muitos- não contam sequer com esse recurso, pois pequenos furtos não dão prisão de dois anos e as nossas cadeias são braços avançados da morte.
Um outro artista fez da solidão o seu tema, e se empenha em combate-la. John Clang emigrou de Cingapura ainda com o nome de Ang Choom Leng e, morando em Nova Iorque, sentiu-se muito só. Fotógrafo, resolveu reunir através da tecnologia famílias separadas.
Convoca suas personagens dos dois lados do oceano. De um lado o emigrado solitário, do outro a família que deixou para trás e da qual sente imensa falta. Uma ligação de Skype permite projetar em tamanho natural a imagem da família reunida no país de origem. No espaço deixado livre para ele, junta-se a esta projeção o membro distante. O conjunto familiar é então fotografado, novamente completo. E logo a imagem é lançada na internet, como uma mensagem de esperança para tantas famílias divididas pela migração. Os 40 retratos de família feitos por Clang foram parte da exposição Being Together ( estar juntos) que circulou pelo mundo.
Há 300 milhões de pessoas deprimidas no mundo. O número não inclui os deprimidos dos grotões do planeta, dos abandonados, dos que ninguém conta e de quem ninguém cuida. Os 300 milhões que se conhecem conduzem a 800 mil suicídios por ano. Eu sei que depressão é doença, química cerebral, eu sei que depressão é falta de serotonina, o “hormônio da felicidade”, eu sei que a modernidade se move a poder de Prozac e antidepressivos. Mas sei também que muitos fatores provocam o desequilíbrio da química cerebral e que a solidão pesa grandemente na balança.
Não nascemos na solidão. Nem para ela. Os humanos são seres coletivos, na medida em que a coletividade fornece abrigo e afeto. Mas não há nenhum abrigo na multidão, muito menos afeto. E as grandes cidades são povoadas de multidão em que cada elemento é um estranho.
Seria útil saber quantos desses 300 milhões de deprimidos moram em cidades grandes e quantos em pequenos centros. Quantos são sozinhos e quantos vivem em família. Quantos deles são velhos.
Imagem: Yuen Family (Los Angeles, Toa Payoh) de John Clang