Marina Manda Lembranças E stive muitas vezes em Medellín, mas desta vez foi diferente. Pois neste 13º Encontro de Promotores de Leitu...

Marina Manda Lembranças
Pois neste 13º Encontro de Promotores de Leitura estávamos também comemorando o 1º, que aconteceu fazem 26 anos. Foi muito comovedor ver-nos projetados nas filmagens de então, quando todos éramos jovens, alguns de nós muito jovens. E mais comovedor ainda foi ver-nos novamente ali, os dinossauros latino americanos da literatura infantil e juvenil, reunidos ao redor do nosso fazer comum, mantendo aceso o entusiasmo e a fé no poder transformador da literatura, como se jovens fossemos.
26 anos atrás Medellín era uma cidade perigosíssima, dominada pelo Cartel de Medellín sob o comando do super traficante Pablo Escobar. Ninguém desejaria ir para lá. Mas alguns destemidos, bibliotecários e professores amealhados pela Fundação Ratón de Biblioteca, encasquetaram de fazer um encontro ao redor da literatura infantil. Convocaram o especialista cubano Antonio Orlando Rodriguez, que naquele momento vivia em Costa Rica. E, como se fosse milagre, o encontro aconteceu.
Hoje, Medellín é uma cidade vibrante, povoada por belas esculturas de Botero, cheia de museus – recentemente, ao lado do nosso hotel, foi inaugurado mais um, de Arte Contemporânea- cheia de parques – meu favorito é o da sensibilização dos pés, onde as pessoas tiram os sapatos para andarem descalças sobre grama, pedras, cascalho, lama - e, sobretudo, cheia de bibliotecas vivas e atuantes.
Naquela primeira vez, nenhum de nós podia sair sozinho. Se quiséssemos conhecer a cidade ou ir às compras, havia sempre alguém da organização ao nosso lado para nos proteger, tipo anjo da guarda.
Mesmo da segunda vez que fui, havia soldados plantados ao longo das duas horas de estrada, a partir do aeroporto. Os soldados desapareceram, assim como desapareceram as duas horas.
Um túnel de 8.8km – prefiro dizer 9 km, mas eles não deixam, fazem questão de respeitar a verdade do túnel- foi escavado na montanha. Levam-se quase dez minutos para atravessá-lo. E chega-se rapidamente ao aeroporto que agora, inútil dize-lo, é muito outro, moderníssimo.
Porque Medellín tem um teleférico que sobe a montanha atravessando moradias bem populares e chega a uma imensa Biblioteca, tão imensa e severa que parece a própria rocha, o Rio contratou os engenheiros colombianos para que instalassem um teleférico semelhante no Complexo do Alemão. O teleférico foi instalado e certamente custou uma fortuna. Mas há tempos está parado por falta de verbas para manutenção, enquanto o de Medellín continua levando seus passageiros pontualmente até o alto.
A mudança não aconteceu por acaso. Após a morte de Escobar, que em seus momentos de glória chegou a exportar 15 toneladas de cocaína por dia para os Estados Unidos e gastava 1000 dólares por semana em elásticos, só para prender os maços de notas do lucro, o cartel foi desbaratado, e a cidade assumiu o compromisso da recuperação. Em uma das minhas viagens presenciei a cerimônia oficial em que, através de seus representantes, Medellín se empenhava no projeto que a tornaria cidade leitora.
O 13º Encontro lotou de Promotores o Teatro da Biblioteca Belém, desenhada por um arquiteto japonês inspirado no ideograma da palavra “livro”. E esta é apenas uma das tantas bibliotecas da cidade. Medellín realizou seu projeto, mas nem pensa em parar. A cada dia que passa, apresenta mais e mais pessoas à leitura.
Foto: Parque Biblioteca España, Medellín, Colombia