Marina Manda Lembranças D epois de seguidas negativas, o governo acaba de admitir que uma área de 9.762 quilômetros quadrados foi d...
Marina Manda Lembranças
Enquanto isso, em direção oposta, Dior fez seu desfile no Bois de Boulogne, em meio a uma floresta de árvores, ou altas mudas de árvores, a serem mais tarde replantadas na natureza.
A consciência ecológica está de orelha em pé no mundo civilizado e os consumidores exigem dos produtores uma revisão do sistema produtivo. Não é só a alimentação que muda, com a exigência de menos sódio, menos gordura, o quase banimento da gordura hidrogenada, e o crescimento do segmento vegano. A vida cotidiana também faz sua parte.
Quando eu era jovem jornalista, um grande amigo meu, Yllen Ker, ganhou um Prêmio Esso de jornalismo com uma série de reportagens sobre o Pantanal. Naquele tempo o Pantanal tinha a estação do alagado quando só era possível chegar a certos lugares ou a certas fazendas de avião. Meu amigo, que já morreu, ficaria surpreso de saber que a enchente não é mais tão generalizada e que certos rios que os rebanhos eram obrigados a atravessar de balsa estão secos. Esta semana, ouvimos no Jornal Nacional um especialista em clima dizer que o que aconteceria no Pantanal daqui a 100 ou 200 anos está acontecendo agora.
A contrapartida europeia é a campanha em curso para limitar as viagens de avião ao estritamente necessário, pois o avião foi desmascarado como grandíssimo poluidor. A queima do querosene, seu principal combustível, contribui para o aquecimento global, fenômeno em que só Trump e Bolsonaro não acreditam. Em breve, as companhias aéreas terão que pagar pela poluição atmosférica, e algumas delas já anunciaram que passarão a usar biocombustível. Um avião movido a energia solar está em estudo. Mas isso ainda demorará uma dezena de anos ou mais.
O jeans é outro grande vilão. Cada calça traga, até a sua finalização com aqueles desbotados estratégicos, 11.000 litros de água. E antes de chegar ao ponto de venda pode viajar mais que qualquer turista, até 65.000 quilômetros de avião. Em respeito a seus consumidores – ou por sua exigência- a Levy’s lançou em 2011 a linha WaterLess, que reduz o consumo de água. E, em 2018, a Lee passou a produzir “jeans duráveis”, graças a novas técnicas de tingimento dos tecidos e fixação da cor com economia em água, energia e produtos químicos. Não sei se qualquer das duas variantes existe no Brasil mas, se existe, ninguém me ofereceu.
Terça-feira passada a ministra da Agricultura, Tereza Cristina reuniu-se em Washington com autoridades e investidores para convencê-los a retomar a importação da carne brasileira. E daqui a pouco mais de uma semana os dados do desmatamento da Amazônia serão discutidos na Conferência do Clima, em Madri. Veremos então como anda a credibilidade do Brasil.
Na Inglaterra, sua Majestade a Rainha anunciou que não mais usará seus deslumbrantes casacos de peles. Na Itália, Prada faz bolsas de Re-Nylon, a partir de redes de pesca recicladas. Na França, Hermès tinge seus famosíssimos lenços com economia de 37% de água. Nos USA, a marca Reformation indica nas etiquetas seu custo ambiental.
Enquanto no mundo inteiro a consciência ecológica está desperta, nós continuamos dormindo de touca.