Marina Manda Lembranças V i o anúncio em uma revista estrangeira, dizia: “Para comer melhor, decore essa lista, e evite estes aditivos n...
Marina Manda Lembranças
Só de imaginar coisas semelhantes no meu prato, cada nome de aditivo configurou-se para mim em uma barata ou verme. Felizmente não como produtos industrializados. Como legumes e frutas frescos... que contêm esses mesmos venenos sob forma de pesticidas.
O anúncio era de agricultura biológica. Mas se na Europa os produtos biológicos têm preços acessíveis devido a uma maior consciência que acarreta maior nível de compra, no Brasil a alface biológica de dimensões modestíssimas que comprei em momento de desvario econômico custava três vezes mais que sua robusta equivalente carregada de venenos e produtos cancerígenos.
Não à toa, dia desses, procurando ler a lista de ingredientes de um creme corporal em busca de Parabeno, o único produto tóxico contra o qual me protejo, tive que buscar uma lente para somar aos óculos. Nem todos dispõem de uma lente quando vão à farmácia ou à perfumaria. E nem todos sabem quanto é daninho o Parabeno. As letras impossíveis de serem lidas a olho nu servem justamente para isso.
Acabei de tomar conhecimento de que os sais de nitrato — indispensáveis aos produtores porque garantem a cor rosada do presunto e aumentam seu peso — em contato com a carne produzem moléculas consideradas cancerígenas pela OMS . Não adianta esbravejar contra a OMS, esporte favorito de Jair Bolsonaro, o produto de que os brasileiros tanto gostam favorece o surgir de câncer coloretal.
Mas, embora sabendo que o polímero sintético presente nas panelas e frigideiras Teflon, mais conhecido pela abreviação PTFE, produz gazes tóxicos e causa danos ao fígado e à tireoide, permanecendo no organismo por longo tempo e reduzindo nossa capacidade de combater as infecções, não joguei fora minhas frigideiras teflonadas. O PTFE está presente na quase totalidade dos seres vivos.
Então, por que não se proíbe a fabricação e venda de Teflon?
Muito pelo contrário. Porque o Teflon deu uma alavancada nas vendas, oferecem-se agora frigideiras mais caras, com Teflon colorido ou em dupla camada.
O mesmo acontece em relação aos agrotóxicos. Em menos de um ano desde a posse, Jair Bolsonaro liberou 290 agrotóxicos. Alguns são de substâncias antigas, mas 33% delas são proibidas em países da União Europeia. E o número de agrotóxicos considerados pela Anvisa “extremamente tóxicos” despencou de 34% para apenas 2%.
A fala de Ricardo Salles, ministro do Meio ambiente, na reunião ministerial do dia 22, é muito mais grave. Pois se o uso de agrotóxicos daninhos pode ser revogado no futuro, não há como recompor a floresta que Salles e Bolsonaro estão, desde o início, caprichando em desmatar. Gostaria de poder pensar que “a boiada” não passará, mas tenho sérias dúvidas.