Marina Manda Lembranças A ndo trabalhando em uma palestra para a qual fui escalada, no próximo mês, em um congresso colombiano onlin...
Marina Manda Lembranças
Se não é fantástico, o que é então a entrada do Queiroz como objeto voador no sítio de Atibaia, segundo pergunta de Andréia Sadi? O advogado Wassef, indicado como “Anjo” em sucessivas mensagens trocadas entre as personagens envolvidas, poderia ser visto como ogro da história, e talvez preferisse, mas está mais para o rato em que o ogro se transforma no conto O Gato de Botas. Defenestrado do Alvorada, estará no escuro ventre do felino, perdida a visibilidade de que tanto se orgulhava.
Nosso país está cheio de feiticeiros querendo transformar o que é bom, como nossas verdes matas, em resíduos do inferno e solo queimado, e aquilo que palpita de vida, em morte. Cheio de pessoas que expelem insultos como se vomitassem sapos. E embora nenhum burro esteja cagando ouro, tantos o procuram driblando contratos, não fornecendo o que prometeram, praticando sobrepreço, e metendo as mãos na bosta à cata de moedas.
Toda pandemia é vivida como maldição. E maldição torna-se quando distorcida e apequenada por quem deveria reconhecer sua fúria e administrá-la.
Mas também temos fadas madrinhas e sábios benfazejos, quase irreconhecíveis atrás das máscaras e metidos nos EPI, que lutam dia a dia nos hospitais e UTIs. E temos alquimistas debruçados sobre provetas em busca da fórmula mágica chamada vacina.
Na minha conferência afirmo, e provo, que os contos de fadas foram traídos três vezes.
Não dá para contar quantas vezes o Brasil foi traído, e para provar cada traição. Mas sabemos que não foram poucas.
No estado do Rio, ao contrário, dá para contar. Pelo menos as maiores. Cinco ex governadores amargaram cadeia nos últimos quatro anos. Nunca será demais lembrar seus nomes, Moreira Franco, Sergio Cabral, Luiz Fernando Pezão, Anthony Garotinho e Rosinha Garotinho. Todos eles por terem metido a mão naquilo, à cata de moedas.
E o sexto está à beira do precipício, com grandes possibilidades de despencar.
Na minha conferência digo que a salvação dos contos de fadas deveu-se à extensa rede de interligações armada entre eles, desde tempos praticamente imemoriais.
No Brasil, as redes que correm por baixo dos nossos pés são muito outras. Redes subterrâneas de informações – como a denunciada por Paulo Marinho, que Flavio Bolsonaro teria sabido com antecedência da operação Furna da Onça, a que atingiu Queiroz, objeto voador que, soubemos ontem, recebeu a esposa no sítio – redes de financiamento para manifestações anti-democráticas como as investigadas pelo STF, redes de funcionários fantasmas e rachadinhas, redes de milicianos aliados a empreendimentos imobiliários, redes nefandas todas.
Mas, como nos contos de fadas, também temos redes estendidas para nos proteger. Redes de ambientalistas, redes de empresas que estão doando dinheiro e implementos para combate à covid19, redes organizadas nas comunidades para abrigar quem está ao desabrigo do governo, redes de voluntários generosos, redes de todos os que estão trabalhando em serviços essenciais e pondo sua vida em risco.
Só nos resta esperar que, como nos contos antigos, uma fada decrete o fim da pandemia, e estabeleça um Brasil melhor.