Marina Manda Lembranças A adorável Livraria Timbre, no Shopping da Gávea fechou. Custo a acreditar que um dos sócios, Aluízio Leite, tenha ...
Marina Manda Lembranças
Conheci Aluízio muito antes, quando ainda sócio de outro livreiro apaixonado, Rui Campos, hoje da Travessa, então parceiros na Livraria Muro. Já era de mole enorme, Aluízio, e parecia contido a custo atrás da mesinha mínima na qual despachava, ao fundo de uma galeria comercial na praça General Osório em Ipanema. Depois a Muro desceu um andar, tornando-se subterrânea como as atividades poéticas que promovia. E eu desci com ela.
Lembro de uma manhã em especial. Estava justamente indo à Muro, quando vi Aluízio sair da galeria. Era sempre inacreditável que conseguisse se deslocar sobre os pés, pequenos para suportar tanto peso e tanto estremecer de carnes. Avançava em direção a um caminhão estacionado no meio fio e enfeitado de faixas e bandeirolas. Assim que me viu, me sequestrou. Que fosse com ele, fazer um tour promocional de leitura. E fui, na boleia, cabelos e faixas ao vento, música e slogans ao alto, promovendo leitura nas ruas do bairro que menos precisava de promoção, Ipanema, naquele tempo tão mais fraterna e tão mais leitora do que hoje.
Reencontrei Aluizío quando, extinta a Muro, se tornou sócio de Kiki Machado, na Timbre. Não sou frequentadora de shoppings, só vou quando preciso. E só precisava ir ao da Gávea para cortar o cabelo, ou no Natal para comprar presentes.
Mas quando ia, parava para um dedo de prosa, para comentar livros e compra-los das sábias mãos de Aluízio. Um dia, ele não estava mais lá. E agora me surpreendo que já tenham passado mais de 20 anos.
Outra livreira a cujo aconselhamento sempre me dobrei foi Vanna Piraccini, estupenda livreira da Leonardo da Vinci.
Não encontrei na internet nada que comprove o que vou contar.
Na internet consta que Vanna e seu marido romeno Andrei Duchiade, ambos livreiros, fundaram em 1952 a Leonardo da Vinci em uma sala do Edificio Delamare, na Avenida Presidente Vargas. E que quatro anos mais tarde, tendo o espaço ficado demasiado pequeno, transferiram a livraria para o subsolo do Edifício Marquês do Herval, onde funcionou até seu recente fechamento.
Pois eu afirmo que conheci Vanna, por volta de 54 ou 55, quando, pelo menos por um tempo, teve livraria no Posto 5 de Copacabana, logo atrás do Bar Bico. Meu pai gostava de conversar com ela em italiano, e me levava tanto para ouvir a conversa sobre leituras ou arte, tanto porque a livraria vendia livros franceses e estrangeiros.
Lembro que muitas vezes saíamos da loja e ficávamos conversando diante da porta para, como bons italianos, aspirar o cheio do mar.
Eu voltaria ao Bar Bico mais adiante, em fim de noite, com Millôr Fernandes e Fernando Sabino porque o bar tinha uma das primeiras máquinas de café expresso. Mas Vanna não estava mais lá.
Frequentei a livraria do Copacabana Palace e a da Maison de France, porque gostava da poesia de Éluard e de um autor do sul da França, Jean Giono. Mas conversa com livreiro nunca mais tive.
Agora, atropelada pela pandemia, faz quase um ano que não vou à Travessa ou à Argumento, únicas livrarias onde ainda era possível trocar impressões sobre livros com quem os vendia.