Marina Manda Lembranças Q uando vi na TV que os brasileiros haviam comido menos carne no ano passado, por instantes me alegrei achando que h...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Minha filha mais moça tinha 14 anos quando deixou de comer carne vermelha. Mais adiante abandonou os frangos. Agora, não faz muito, radicalizou. Chutou o balde dos laticínios, renunciou ao peixe e aos ovos, tornou-se vegana.
Faz tempo, sei que a criação industrializada de gado é altamente responsável pelo aquecimento global. Que o gado peida, arrota, respira, mija e até chegar à nossa mesa gasta mais água do que seria tolerável. Agora, lendo “Nós somos o clima” de Jonathan Safran Foer, mesmo autor de “Comer animais”, tenho dados mais precisos:
> 59% de toda a terra cultivável do globo é usada para plantar alimentos para gado ou outros animais destinados à mesa humana (vejam-se nossas plantações de soja).
> Um terço de toda a água potável vai para o gado, e outro terço é usado nas casas dos humanos (menos no Brasil, onde nem todas as casas têm água considerada potável, não custa lembrar a geosmina, e menos ainda possuem saneamento básico).
> Para cada ser humano, existem cerca de trinta animais criados para pecuária, (isso sem falar de galinhas e frangos! E, mais recentemente, dos currais de peixe e camarão).
> Falando em galinhas, os humanos comem 65 bilhões delas por ano.
> Calcula-se que dentro dos próximos trinta anos a população mundial vá aumentar em 2,3 bilhões. Fazer as contas resulta apavorante e nos leva a gritar “pobres galinhas”. Mais justo seria, porém, gritar “pobres humanos”!
Não sou vegetariana como minha filha decidiu ser na adolescência, mas tenho comido mais mato que carne. Carne, no máximo, duas vezes por semana. E mesmo assim, porque a comida da minha casa não é feita só para mim, mas para mais pessoas, todas elas carnívoras. Herdeira que sou da boa mesa italiana prefiro peixes, ovos e grãos, pão, risoto e pasta. Não tomo leite. Mas mesmo sabendo de onde vem o queijo, acho difícil abrir mão dele.
Essa conversa que aparenta ser sobre comida, só vale para quem acredita em aquecimento global. Mas há muitos negacionistas, que pouco se importam se o planeta aumentar a temperatura em 2ºC , o que cortaria nosso caminho de volta e acarretaria gravíssimos problemas ambientais – tais como nosso Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o da “boiada”, cuja primeira providência ao assumir o cargo foi extinguir a Secretaria de Mudanças de Clima e Florestas.
Aliás, Foer dedica um capítulo do livro ao Brasil ou, melhor dito, a Jair Bolsonaro. Sob o título, “Nem todo desmatamento tem a mesma relevância”, refere-se ao desmatamento da Amazônia. Pena o livro ser de 2019, porque Foer não podia saber que ao fim daquele ano a Amazônia teria queimado mais do que nos sete anos anteriores, o que representou um retrocesso considerável para o Brasil no Acordo de Paris.
Não é preciso pesquisar muito para saber que a temperatura global aumentou. Basta morar no Rio de Janeiro. Antes, a capital mais quente do país era Teresina acompanhada por Cuiabá e Palmas. Lembro que quando fui a Palmas, mal conseguia respirar. Agora, para mal conseguir respirar basta estar na minha casa no Rio, sem ar condicionado ligado. E sei que ligar o ar condicionado contribui para aumentar a temperatura global, consequentemente, a do Rio.