Marinha Manda Lembranças E m tempos da frase agora célebre o ex-ministro Pazuello: “É simples assim, um manda, o outro obedece”, consola sab...
Marinha Manda Lembranças
Marinha Manda Lembranças
No caso dos animais, o Homo então Sapiens começou escolhendo na natureza algumas espécies “pré-adaptadas”, capazes de viver em bandos, de se reproduzirem em cativeiro. Depois de dez mil anos sob a vara dos seres humanos, carneiros sofreram uma redução de 24% no tamanho do cérebro. Redução que age sobre o sistema límbico, responsável pela ativação dos hormônios e pelas reações do sistema nervoso central às ameaças e a qualquer estímulo vindo de fora. Cães, gatos e outros animais domésticos sofreram a mesma mutação, que se verifica na diminuição radical de suas reações emocionais. Uma experiência provou como, através da seleção de raposas mais dóceis, bastam vinte gerações para chegar a indivíduos completamente domesticados, capazes de abanar o rabo que nem cachorros e, como cachorros, buscar carícias. Verificaram-se também modificações físicas: orelhas pendentes – pois já não precisam ter ouvido alerta para identificar prováveis caças ou evitar caçadores –, cauda erguida – pronta a ser abanada para ganhar afagos – e aumento de fecundidade.
Escreve Scott, “A domesticação se apoia sobre uma base genética extremamente estreita e frágil: um punhado de espécies cultivadas, um número pequeno de raças de bichos e uma paisagem radicalmente simplificada de precisava ser constantemente defendida contra a reconquista dos elementos naturais que haviam sido excluídos”.
Escreve Scott, “A domesticação se apoia sobre uma base genética extremamente estreita e frágil: um punhado de espécies cultivadas, um número pequeno de raças de bichos e uma paisagem radicalmente simplificada de precisava ser constantemente defendida contra a reconquista dos elementos naturais que haviam sido excluídos”.
Hoje, ao contrário do que prega o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, não se fala mais em “defender contra a reconquista”. Se trata de ajudar os elementos naturais a retomar o território de onde foram expulsos, a replantar as florestas, a permitir que os animais – sobretudo aqueles em risco de extinção – voltem a frequentá-las.
Étienne da La Boétie, autor do “Discurso da servidão voluntária” de 1563, lista três motivos que levam o homem a se submeter: o hábito, a covardia, a participação. Eu acrescentaria a admiração pelo outro. Para as mulheres, a submissão é em grande parte ligada ao amor e ao desejo. E, para ambos, a busca de poder, mais diretamente conectado à política, quando a pessoa se submete já pensando em usar o outro – aquele que no momento está por cima – como degrau futuro, que lhe permita deslocar-se cada vez mais para o alto e, por sua vez , escolher espécimes dóceis e submetê-los ao seu mando.
La Boétie escreveu que “os homens, enquanto houver neles algo de humano, só se deixam subjugar se forem forçados ou enganados”. Só se interessou pelos homens porque, no seu tempo, as mulheres eram subjugadas pelo peso social e pela ausência de anticoncepcionais.
E porque Scott coloca a domesticação humana junto com a domesticação do trigo, busquei em minha estante um livro que li fazem quase 50 anos, “Seis mil anos de pão” do escritor e jornalista H.E. Jacob. E reli como Darwin, no dia 13 de abril de 1861, leu para a Sociedade Lineana de Londres a primeira carta sobre as formigas, em que afirmava que a agricultura não havia sido inventada pelo homem e sim pelas formigas, que semeavam determinadamente e colhiam grãos ao redor do formigueiro, não permitindo que nenhuma outra erva ou planta prosperasse na plantação. A partir de Darwin uma nova ciência foi fundada, a mirmecologia, para o estudo da formigas. Mas Darwin equivocou-se na questão da agricultura. O homem da idade da pedra descobriu a agricultura por acaso. Mas como escreveu Noah Harari “Não fomos nós que domesticamos o trigo, foi ele que nos domesticou”.