Marina Manda Lembranças N ão tenho recebido emojis de gladiadores virtuais. Aliás, nunca os recebi. Acho que o termo gladiador não se aplica...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Acho que o termo gladiador não se aplica, mesmo se acrescido de “digital”. Gladiadores, conforme aprendi in loco e no cinema, lutavam até a morte nos circos romanos, havia até aquela quase-cerimônia do imperador de plantão mostrar o polegar para cima quando queria poupar a vida do gladiador vencido, ou para baixo quando preferia que fosse morto pelo vencedor. Essa última variante chamava-se pollice verso. Não creio que a disputa até o último sangue seja a intenção desses modernos gladiadores.
Nem sabia que a geração Z tivesse cancelado o emoji da risadinha com lágrimas. Tenho recebido alguns depois do cancelamento. E tampouco sabia que os emojis têm que ser usados de forma irônica. Mas eu não sou millenial, não sou anciã nem idosa, sou velha mesmo.
Deve ser por isso que só recebo dos meus amigos, vários deles mais jovens mas ainda assim cringes, emojis de corações palpitantes, buquês de flores espargindo corações como pétalas, e séries da mãozinhas batendo palmas.
Pouco liguei para a notícia de que muitos emojis novos foram criados, pois não me incluo entre os 88% dos usuários que, segundo estudo recente da Adobe, sentem mais empatia por quem usa emojis. Nem entre os usuários de Facebook onde cinco bilhões de emojis são postados a cada dia. Aliás nunca mandei emoji algum!
Acredito mais nas palavras, sou ardorosa defensora da comunicação escrita ou verbal. Vale mais a demora para escolher a palavra exata, a palavra que melhor vai aderir à pessoa à qual é endereçada, que resolver a questão mandando um emoji. Quando mando mensagem para um amigo capricho na escrita, como se lhe escrevesse uma carta, seleciono as palavras sabendo que o tempo gasto na escolha é insignificante diante do tempo que gastaria subscritando o envelope e indo ao correio enviar uma carta.
Quando falo aos jovens que lendo se aprende a escrever, eles me olham com cara de mofa. Viciados em WhatsApp, em digitar gastando o menor tempo possível para estar sempre presente nas redes, em utilizar emojis onde frases inteiras são trocadas por imagens, em escrita resumida onde palavras são reduzidas a duas ou três letras, mais parecidas com siglas do que com as palavras que estão substituindo, acham que saber escrever é desnecessário no século XXI.
Justo ao contrário! No século XXI tudo se obtêm – bolsas, contratos, financiamentos, patrocínios – através da apresentação de projetos ou planos. E o projeto que tem maior chance de captar atenção de quem julga e de quem decide, será sempre o de melhor escrita. Isto porque quem julga sabe que a boa escrita revela um pensamento bem organizado, consequente, e quem escreveu o projeto saberá utilizar a contento a verba recebida.
No princípio do século XX não se apresentavam projetos escritos. Havia menos gente, as mega cidades não existiam e o tempo parecia fluir mais lentamente. Tudo era resolvidos através de entrevistas, quando candidato e empregador ou financiador se enfrentavam olho no olho e resolviam tudo verbalmente.
Quem recebe emojis os decifra imediatamente porque a maioria dos que recebem emojis sabe de antemão o significado de cada um deles. Eu, por exemplo, interpretaria de várias maneiras a imagem de um copo derramando numa superfície aparentemente plana um líquido azul, não sei o significado de um folha de vitória régia com a sua flor bem plantada no meio, tampouco saberia identificar a mensagem transmitida por um galho de coral acrescido de supostas bolinhas de água ou de oxigênio.
Prevejo que a escolha entre tantas imagens – apertos de mão são oferecidos em 25 tons de pele – vá demorar mais que a antiga escolha da palavra justa para a pessoa certa.