Marina Manda Lembranças A o vetar a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para estudantes de baixa renda em escolas públicas, para...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Ou então, podemos recuar até 200 a.C quando se acreditava que a mulher menstruada estava possuída por um espírito maligno e o homem que intercambiasse olhares com ela corria o risco de ser enfeitiçado. Me pergunto como um homem saberia que a mulher estava menstruada, já que elas sempre se protegeram.
Bolsonaro agiu como brasileiro do século XVIII, época em que se punha na conta do sangue menstrual ser o principal ingrediente de poções destinadas a enlouquecer pessoas ou até matar bebês.
Ou pensou como cidadão da Índia, onde as mulheres menstruadas são intocáveis e consideradas sujas, proibidas de entrar na cozinha da casa, onde poderiam infectar os alimentos, proibidas de sentar à mesa junto com a família, proibidas de deitar na própria cama, e proibidas de sair de casa para não contaminar os outros transeuntes.
Mas estamos em pleno século 21!! E contra o veto do presidente levantou-se um coro de vozes, poderoso como rugido de leão. Ao coro fizeram eco medidas tomadas por governadores, prefeitos, escolas e ONGs; distribuindo gratuitamente absorventes onde mais se fazem necessários.
Bolsonaro ainda debochou, dizendo que os absorventes não seriam distribuídos por cegonhas, numa clara alusão aos bebês que seriam gerados graças ao ciclo menstrual das mulheres.
Agora sabemos, graças a dados levantados pelo Fundo dos Povos das Nações Unidas, que cerca de 4 milhões de meninas e jovens não tem acesso a itens de higiene básicos, entre os quais estão os absorventes. E que 1,2 milhão delas não dispõem de papel higiênico no banheiro das escolas em que estudam, além de 321 mil alunas não terem sequer banheiros em condições de uso em unidades de ensino.
A respeito do sangue menstrual publiquei um poema no meu mais recente livro de poesia, que aqui transcrevo:
Útero em sangue
Ditas impuras como os leprosos
mulheres menstruadas
ou paridas
tinham vetada a entrada
no Templo de Jerusalém.
Esqueciam os sacerdotes
– ou muito se lembravam –
que sem o útero em sangue
das mulheres
não haveria Templo
nem sacerdotes
nem homem algum dos tantos de Israel
com sua usurpada pureza.