Marina Manda Lembranças L i no jornal que um russo foi condenado a passar 11 anos atrás das grades, por tráfico internacional de animais si...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
É a segunda cana do mesmo cidadão. Na primeira foi preso no aeroporto de Guarulhos tentando levar para a Rússia 220 bichos. A Polícia reteve seu passaporte. Por isso, a segunda aconteceu em um ônibus em Seropédica, quando planejava atravessar a fronteira em Foz do Iguaçu carregando 320 animais silvestres. Dos quais 75 morreram menos de uma semana depois, comprovando os maus-tratos.
Agora dou de cara com um debate a respeito da China, se o mercado de Wuhan que vende animais vivos – uma tradição gastronômica chinesa – seria responsável pela pandemia da Covid-19.
Lembro que na infância, quando cheguei ao Brasil, me surpreendi com as lojas onde se vendiam galinhas vivas. O costume, para o almoço de domingo que reunia a família toda, era comprar duas galinhas de cada vez, cujas patas eram amarradas juntas, firmemente, com a ajuda de um barbante e que o freguês levava, penduradas de cabeça para baixo, com a mais absoluta indiferença.
Chegando em casa procedia-se à segunda parte da operação “almoço de família”. Com um golpe certeiro da faca guilhotinava-se a cabeça da galinha e o sangue que jorrava do pescoço era recolhido numa cumbuca, para realizar a apreciada receita “frango ao molho pardo”.
Tudo isso, diante da segunda galinha que pressentia, tomada de pavor, o destino que em breve seria o seu.
Isto configura, ou não, maus-tratos ao animais? No entanto nenhuma dona de casa ou cozinheira recebeu voz de prisão.
Eram outros tempos, a atenção voltada para a natureza só quando era possível sequestrar seus bens. Hoje, quando não há nada mais a sequestrar e a ação humana estão pondo em risco nosso planeta, a atenção se volta mais amorosa para a natureza.
Volto ao debate sobre a China. A população chinesa desconfia do frescor da carne vendida nos supermercados. Por isso compra animais vivos nos mercados chamados de “wet market “( mercados úmidos). Esses mercados, preferentemente localizados no centro de cada cidade, fornecem o equivalente a metade da carne consumida pela população.
O governo chinês não conseguiu até agora estabelecer uma cadeia de produção de carne capaz de conquistar a confiança dos consumidores, o que favorece a exportação – é onde o Brasil se beneficia.
Mas não comemos nós também animais vivos? Nos restaurantes elegantes que mantêm tanques onde lagostas nadam placidamente, não apontamos o dedo para dizer “é esta”?
Quanto aos animais vivos traficados pelo russo, não se destinam à alimentação mas aos colecionadores de bichos exóticos. Basta dizer que o russo é especialista em tráfico de aranhas. Quando foi preso no aeroporto de Amsterdam portava uma bagagem com 26 jararacas, 10 sapos venenosos, 33 baratas, e não sei quantos lagartos raros.
O propósito de serpentes tenho uma história de bicho vivo para contar. Quando morávamos na África meu pai e minha mãe participaram de uma caçada. Não caçaram nada porque minha mãe espantava as gazelas que iam beber. Porém, de volta ao jipe, encontraram uma serpente enrodilhada, que decidiram poupar já que o dono do jipe se ofereceu para adotá-la. Meu pai, volta e meia, ia visitar o amigo e perguntava pela saúde de cobra, pois estava determinado a comê-la.