Marina Manda Lembranças O ano começa com uma trágica redução de verbas destinadas à educação. O maior corte atingiu em cheio a EJA (Educaçã...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Assim como não é possível que o presidente Bolsonaro tenha destinado, do orçamento de 2022, 8,8 bilhões de reais ao Ministério da Defesa, dos quais 1,2 bilhões para a Força Aérea destinados à compra de aeronaves e caças, mais do que o orçamento reservado para saneamento básico, de 1 bilhão. Por que tanto dinheiro para a Defesa e tão menos para a educação, se não estamos em guerra e sequer ameaçados de ataque por outro país?
E dizer que na década de 30 Henrique Lage sabia que a educação era a única alavanca capaz de nos tirar da já vergonhosa diferença social. Passo a citar o historiador Clóvis Bulcão, que acabou de publicar uma biografia de meu tio-avô: “Henrique também participou dos esforços de melhorar a educação do país. Em 1933 começou a apoiar o diretor da Instrução Pública, o educador Anísio Teixeira, em sua Cruzada de Educação, (...) A meta era alfabetizar os 100mil analfabetos só da cidade do Rio de Janeiro. (...) Seus esforços pela educação também ocorreram em Santa Catarina, na cidade de Imbituba. Lá ele construiu a mais moderna escola do estado, o Grupo Escolar Henrique Lage, com seis classes para atender 335 alunos, filhos dos seus empregados.”
Quando me convidaram para fazer uma palestra em Laguna, sabendo do meu parentesco com Henrique, me levaram a conhecer Imbituba, e tiraram fotos minhas diante dessa escola, que infelizmente, sendo um fim de semana, estava fechada. Eu teria gostado muito de falar com os alunos e contar a eles histórias do homem que havia dado nome à escola que agora frequentavam.
Apesar da Cruzada de Educação proposta por Anísio Teixeira, o analfabetismo só fez aumentar. Hoje temos 11,3 milhões de pessoas analfabetas com mais de 15 anos. 44 milhões de pessoas com mais de 25 anos, não completaram o fundamental, o que representa 33% da população.
E é justamente na educação infantil que a redução de verbas foi mais feroz. De 207 milhões em 2018 passou para a metade este ano.
E dizer que a prefeita de Curitiba, faz muitos anos, queria aumentar o número de creches para atender a todas as crianças da cidade abaixo de 4 anos. Não sei se o conseguiu mas, pelo amor que tenho às crianças, espero que sim. Mesmo que o tenha conseguido, tendo em vista a falta de verbas, é certo que algumas estarão cheias de infiltrações, outras sem água nos banheiros, outra despidas de brinquedos e livros ilustrados.
Além da falta de creches, as universidades federais estão literalmente caindo aos pedaços. Da última vez que levei Affonso ao Fundão para fazer prova de vida, temi ver saltar uma onça do mato alto, parte do teto havia despencado, e o olhar não pousava em nada que não tivesse cara de abandono.
Eu cursei a Escola Nacional de Belas Artes, mais conhecida como ENBA, no prédio neo-clássico que agora abriga a Funarte. Edifício nobre que dava alegria frequentar. Lembro da gente comendo sanduíches na hora do almoço, sentados na enorme galeria e olhando com displicência as grandes esculturas de gesso, reproduções de esculturas famosas; a minha favorita era a de Lacoonte lutando contra as serpentes. Depois a ENBA foi transferida para o Fundão e os alunos, muitas vezes, precisam assistir às aulas ao ar livre porque a sua sala foi inundada.
Longe, bem longe, vai a Cruzada de Anísio Teixeira.