Marina Manda Lembranças Jamais tirei uma selfie em minha já longa vida. Se tanto, minha filha tirou selfies de nós três juntos, ela, eu e me...
Marina Manda Lembranças
Jamais tirei uma selfie em minha já longa vida. Se tanto, minha filha tirou selfies de nós três juntos, ela, eu e meu neto.Marina Manda Lembranças
Acho patético pessoas chegarem ao restaurante e, antes mesmo de olhar o cardápio, tirarem uma selfie. Mais patético ainda ver algumas mulheres puxarem o cabelo para a frente e fazerem caras e bocas para saírem bonitas na foto.
Selfies não se tiram para conservar um momento significativo. Se tiram para postar. É uma espécie de constante campanha publicitária individual. O resultado dessas campanhas que não custam nada é, na maioria das vezes, igual ao seu custo.
Que diferença dos álbuns de fotografias dos nossos avós, que se abriam com reverência, como se se despejasse no colo a riqueza de uma cornucópia. A riqueza era a visualização do passado. Depois vieram os filmetes domésticos, e os álbuns dos avós não foram mais abertos com a devida reverência.
Muito tempo depois chegaram ao planeta Terra os celulares. Hoje vejo pessoa no elevador digitando mensagens, vejo pessoas correndo e falando no viva voz, vejo pessoas parando na calçada para atender o telefone.
Meu grande amigo, o escritor Bartolomeu Campos de Queirós dizia que estávamos nos esquecendo da “grandeza das coisas simples” e tinha razão. O celular não faz parte das coisas simples. Tornou-se indispensável, mas não tem grandeza.
Bem antes do celular chegaram os computadores. Lembro que quando eu comecei a trabalhar no Jornal do Brasil, no começo dos anos 60, ainda se usavam máquinas Remington enormes. Contemporaneamente trabalhava na revista da IBM que divulgava os computadores, grandes como armários, que eram vendidos só para empresas. Demoraria muito a sermos apresentados aos computadores individuais. Mas quando fomos, não houve mais possibilidade de retorno.
Celulares e computadores deram uma acelerada no tempo. 24 horas deixaram de ser suficientes para resolver todas as tarefas do trabalho, somadas às que a vida nos impõe.
A internet, filha mais amada dos computadores, criou duas novas espécies de seres humanos: os seguidores e os influenciadores. Não sei onde milhões de pessoas arranjam tempo para seguirem celebridades. Falando nisso, também não sei como zilhões de pessoas desovam tempo para acompanhar passo a passo, hora a hora, filmadas por 11 câmeras, as intrigas, as festas, os conluios, as transas dos integrantes da casa do BBB. Para mim é como olhar pelo buraco da fechadura coisa que, como criança bem educada, fui ensinada a não fazer.
A internet cria fenômenos surpreendentes com o da Alice, que aos dois anos fala palavras difíceis e está sendo exposta e comercializada pela mãe. Alice tem 3,4 milhões de seguidores. E no YouTube do banco, para quem ela protagonizou um comercial contracenando com Fernanda Montenegro, o vídeo passou de 53 milhões de visualizações.
Os computadores geraram uma espécie de pirataria digital que atende pelo nome de Hacker. Os Hackers sequestram dados, de preferência de uma empresa importante e exigem resgate alto para devolve-los. Recentemente o governo da Ucrânia foi vítima de um ataque cibernético, várias páginas do governo saíram do ar, a Ucrânia diz ter provas do envolvimento russo. Também há pouco, o Ministério da Saúde sofreu um ataque Hacker, que embaralhou os dados.
Que diferencia dos piratas de antigamente que singravam os mares com elegância e ferocidade. Que distância do pirata Sandokan, de família real que por vingança só atacava navios ingleses ou da Companhia das Índias, personagem de uma série de livros de Emilio Salgari que me encantou na infância.