Marina Manda Lembranças F ilmes de ação tem spoiler no exato momento em que você compra ingresso para assisti-lo no cinema ou liga a televis...
Marina Manda Lembranças
Marina Manda Lembranças
Acabei de ver “Um novo dia para matar – John Wick 3”, o que significa que Keanu Reeves já interpretou três versões diferentes – e sempre semelhantes – da personagem John Wick.
Essa é outra característica dos filmes de ação: quando fazem sucesso, viram série, que nem os filmes de 007 que inaugurou a mais longeva série cinematográfica. Sean Connery, na pele de James Bond, fez 6 filmes da série, que continuou depois que ele desistiu de, mais uma vez, vestir a mesma pele. 007 era o número que dava a Bond licença para matar, Bond era o agente secreto mais namorador do Reino Unido. Isto já nos diz o que Connery tinha que fazer.
Volto a “Um novo dia para matar”. John Wick tem uma promissória a resgatar e, para este resgate, ele é incumbido de enfrentar e matar um bando de meliantes que parecem se multiplicar, ele acaba de matar um e mais quatro ou seis aparecem. John está armado só com uma pistola, enquanto os meliantes tem metralhadoras que a mim pareceram canhões.
Os cortes se seguem em frações de segundos, impedindo a gente de olhar. O truque é esse mesmo, não se pode olhar o que não é para ser visto. Nesses filmes é a sensação que comanda. Sensação de ter visto uma luta completa, enquanto só se viu o movimento dos corpos em luta. A emoção constrói as partes faltantes, e as emenda.
Detalhe: John sai de tantos enfrentamentos e de tantos tiros, só com três ou quatro cortes no rosto e mancando. Não haviam de enfear Keanu Reeves com um olho roxo. Aliás, olhos roxos nunca aparecem nos filmes de ação, nem no herói nem nos seus opositores.
Outro elemento dos filmes de ação é o gancho no final. No John Wick que vi, ele vai buscar o cachorro que deixou na portaria de um hotel e volta com ele para casa. Não vi os outros dois da série mas posso apostar que terminam do mesmo jeito: deixa o cachorro em algum lugar, para protegê-lo enquanto ele vai à luta, e o busca no final. Isso demonstra que John tem bom coração apesar de matar tanta gente. Um fim de filme meigo.
Me lembro da emoção que senti ao assistir, com meu irmão Arduino, “Os sete samurais”. Depois dessa primeira vez, ele e eu o assistimos numerosas vezes, juntos ou separados. Não era um filme de ação, mas no contexto era.
Os aldeões agricultores de uma aldeia nas montanhas são repetidamente assaltados por um grupo de salteadores que roubam sua colheitas. Um deles busca ajuda com um samurai decaído, que convoca mais seis. E os sete treinam os aldeões para se defenderem. A grande batalha é quando os salteadores voltam a atacar. Não é o roteiro perfeito para um filme de ação?
A diferença está na direção. “Os sete samurais”, como todo mundo sabe, foi dirigido pelo grande Akira Kurosawa. É um filme histórico, que pretende refletir não apenas sobre o passado do Japão, mas sobre a opressão, o opressor e quem oferece sua vida para libertar quem está sendo oprimido.
É um filme grandioso. Que gerou um filme bem menos grandioso, que gerou uma série de filme de ação.
O filme menos grandioso é “Sete homens e um destino”, de que eu vi uns trechos recentemente. Surpreendeu-me que em 1960, quando Sete Homens foi lançado, o diretor, John Sturges, ou quem por ele, se preocupasse com integração. Nas personagens há um negro e um índio pele vermelha que luta com arco e flecha.
Sete Homens segue o mesmo roteiro dos Sete Samurais, e tem como atores principais Yul Brynner e Steve McQueen. Enquanto os Samurais tem Toshiro Mifune. O que faz a diferença entre os dois filmes é a grandeza da intenção.